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PALÁCIO DA CULTURA NENÊ MACAGGI: PATRIMÔNIO AINDA INEXPLORADO PELOS RORAIMENSES


Palácio da Cultura Nenê Macaggi | Foto: Laura Lima

A cultura faz parte de onde vivemos e de quem somos. Em Boa Vista existem lugares onde a população pode apreciar a arte, conhecimento, histórias e costumes do estado, porém, ainda hoje, muitos desses lugares são desconhecidos ou pouco visitados pelos roraimenses. Este é o caso do Palácio da Cultura Nenê Macaggi.


O infográfico ao lado mostra alguns dos resultados da enquete online produzida pela redação, para saber sobre a adesão e conhecimento das pessoas a respeito do Palácio da Cultura Nenê Macaggi. Participaram, no total, 40 pessoas, com idades entre 17 e 50 anos, sendo 28 mulheres, 11 homens e uma pessoa que preferiu não dizer.


O questionário foi dividido em três partes: cultura e passatempo, para saber os tipos de coisas que costumam fazer e os lugares de entretenimento que costumam frequentar; o segundo, sobre o Palácio da Cultura, para saber se eles frequentam e conhecem a história; e, o terceiro, sobre a Nenê Macaggi, para saber se eles conhecem a pessoa que nomeia o local.


Ao lado, pode-se observar que apenas 26 (65%), dos 40 entrevistados, visitaram o lugar. A respeito da história do Palácio da Cultura e de quem foi Nenê Macaggi, 36 (90%) afirmaram não conhecer a história, enquanto 33 (82,5%), disseram desconhecer a pessoa cujo o nome foi dado a esse patrimônio.


Também foi perguntado aos que, ainda, não visitaram o porquê de não o terem feito, e, aos que já visitaram, que tipos de atividades realizaram ou observaram por lá. As respostas podem ser visualizadas no infográfico abaixo.


É importante ressaltar que a maioria dos visitantes são turistas, e que geralmente, estudantes também frequentam o local, mas com o intuito de utilizar a biblioteca para pesquisas e trabalho

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O Palácio da Cultura Nenê Macaggi é um patrimônio histórico público, mas que não costuma ser reconhecido dessa forma pelo público em geral, que, em sua maioria, desconhece a história do local, como pode ser percebido nos infográficos anteriores. Tendo isso em mente, nossa equipe de reportagem visitou o local, que recentemente completou 26 anos desde sua inauguração, afim de apresentar as pessoas esse lugar ainda inexplorado pela sociedade.


Onde tudo começou

Dedico minha vida a história e a cultura de Roraima”, é assim que a servidora mais antiga do palácio, Meire Saraiva, define sua trajetória de mais de 30 anos. Ela conta que por anos, os artistas roraimenses não tiveram um lar fixo para se expressar, já que no fim da década de 80, Roraima se estabelecia como estado e com isso, passava por forte transição política.


Na época as atividades do Departamento de Cultura eram realizadas em diversos espaços, alguns deles foram: o Fórum Sobral Pinto, a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarr) e o prédio da Assembleia Legislativa de Roraima. Apenas em 1993, os talentos locais ganharam um prédio, inaugurado no coração de Boa vista (em frente a praça do Centro Cívico).



Palácio da Cultura | Arquivo do Palácio da Cultura

A construção foi avaliada em torno de 31 milhões de cruzeiros. A obra contém uma arquitetura moderna, com paredes espelhadas e em forma de pirâmide. A estrutura do Palácio da Cultura é dividida em três andares com capacidade para as mais diversas atividades culturais. Em 1993, a Casa da Cultura foi tombada como patrimônio histórico estadual e todo o acervo histórico e cultural de Roraima, foi transferido para o palácio.


Meire Saraiva | Foto: Jaqueline Thomaz

Aos 72 anos, dona Meire explica que já viveu muitos momentos no local, mas teve dois que a marcaram. “Isso aqui representa minha vida, vivo, respiro, eu amo. E faço porque eu gosto. Só em trabalhar aqui, chegar todos os dias já é muito gratificante, passei por diversos momentos no palácio que me marcaram, como minha formatura de graduação em história e as nossas exposições de patrimônio histórico.”


As atividades de cultura do estado eram administradas pela Secretaria de Educação, Cultura e Desportos (SEED), apenas em 2013 foi criada a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) pela Lei n° 890 de 23 de janeiro de 2013, que fica localizada dentro do palácio. Algumas das suas funções são: executar, supervisionar e controlar as ações do Governo relativas à Cultura; Desenvolver, produzir, fomentar e apoiar as atividades artísticas e culturais em todas as modalidades, etc.


Fique por dentro do Palácio

Com uma estrutura diversificada, o palácio contém variadas opções para entretenimento e buscas por informações acerca do patrimônio histórico de Roraima. Para quem curte obras artísticas, o palácio possui exposições e mostras sobre diversos temas. Para eventos como formaturas, palestras e casamentos, é destinada a sala videoteca ou o auditório, com capacidade para mais de 500 pessoas. Quem deseja conhecer mais sobre a história do estado de Roraima, a Promoção Social de Patrimônio Histórico, oferece algumas opções para isso, por meio de fotos antigas, jornais, documentos etc. O local ainda conta com uma praça na parte externa do Palácio.



Para os amantes da leitura, o prédio também possui a Biblioteca Pública do estado, que é dividida em dois espaços: Infanto-juvenil e adulto. Com mais de 39 mil livros sobre literatura, didáticos, biográficos e outros, os usuários podem consultar o acervo e fazer empréstimos por até 10 dias, apenas os técnicos não são disponibilizados para levar para casa. Segundo Meire Saraiva a quantidade de frequentadores na biblioteca diminuiu após o advento da internet. “É boa [quantidade de usuários], mas diminuiu um pouco depois da internet, porque antes aqui não tinha nem lugar, tinha gente que ficava esperando aqui fora para entrar”.


A acadêmica de Secretariado Executivo da Universidade Federal de Roraima, Maria da Silva, relata que sempre frequentou a Biblioteca Pública, pois ela é uma ótima oportunidade para aprender mais. “gosto muito de ler e quando estudava no ensino médio era o lugar que eu mais ia. Eu ainda estou frequentando, mas agora é bem menos do que anos atrás. A biblioteca é um lugar que não devemos deixar de ir, porque lá conseguimos adquirir muitos conhecimentos”.



Eventos

No palácio são realizados grandes eventos durante o ano. A atual exposição que está à mostra é intitulada UTNUBU-UBUNTU da artista Alessandra Cunha, mais conhecida como Ropre. Ela apresenta 28 pinturas fragmentadas, pinceladas com uma mistura de técnicas e de tecidos diferentes. UTNUBU é a escrita ao contrário da palavra UBUNTU e a origem do título é denominada a filosofia africana que nutre o conceito de humanidade em sua essência. A mostra ocorre até o dia 17 de outubro.

Imagem ilustrativa da exposição | Foto por Laura Lima

Segundo o assessor, Dennis da Silva Lima, nos próximos meses realizarão outra exposição no palácio, mas esta será fixa. “Parte do acervo do patrimônio está no Parque Anauá, no museu integrado de Roraima. Na semana do município parte do museu vai vir para cá [palácio da cultura], para ficar uma exposição permanente”, contou.


No mês de outubro será realizado uma exposição com parte do acervo patrimonial do estado de Roraima. A ideia é montar um museu para mostrar a trajetória do estado. A exposição ainda não possui data definida.


Por que a escolha de “Nenê Macaggi”?


Nenê Macaggi | Arquivo do Palácio da Cultura

Destaque na literatura local, a jornalista e escritora Maria Macaggi (Nenê Macaggi) foi uma mulher de personalidade forte, que gostava de escrever sobre o cotidiano das pessoas. Nasceu no dia 24 de abril de 1913, em Paranaguá, no Paraná. Nenê produziu literatura em diversos gêneros literários, desde crônicas, contos e romances. Na década de 30, escreveu seus primeiros sucessos, Água Parada e Chica Banana. Em 1942 veio para Roraima a pedido do presidente Getúlio Vargas com o objetivo de realizar trabalhos jornalísticos sobre a situação dos territórios da Amazônia, mas acabou ficando e escrevendo sobre a cultura local.


Em 1970, escreveu o romance A Mulher do Garimpo, considerado o ponto de partida para a literatura roraimense. Também escreveu outras obras, como o Conto de Amor, Conto de Dor e Exaltação ao Verde. A Conselheira de Cultura, Elena Fioretti, lembra das atuações e da importância da escritora para o estado. “Durante um período muito longo, ela foi a única pessoa que produzia literatura aqui, além de jornalista, escritora, também atuou como delegada especial dos índios e conselheira de cultura.”


Nenê Macaggi na inauguração do Palácio | Arquivo Palácio da Cultura

A grande trajetória de Nenê Macaggi fez com que seu nome fosse cogitado para o Palácio mesmo ainda em vida, porém um deputado entrou com uma ação judicial, alegando que não era permitido a denominação em logradouros públicos com o nome de personalidades ainda vivas, o nome foi retirado e colocado só depois de sua morte. A escritora morreu em 04 de março de 2003.


José Macaggi, neto da escritora, guarda na memória o vocabulário culto da avó. “Ela tinha uma linguagem muito rica, rebuscada. Até no momento da morte ela falava com perfeição o português, escrevia com perfeição. Ela morreu com 96 anos ia completar 97 e morreu escrevendo, ela ainda conseguia escrever até umas semanas antes de morrer”, lembra o neto. Confira a entrevista completa abaixo:



Outras homenagens

O dia do escritor roraimense, é 24 de abril, data de nascimento da Nenê Macaggi. Seu nome também foi colocado na sala dos Conselhos Culturais, localizada dentro do palácio. O documentário “Nenê Macaggi: Entre linhas”, foi vencedor do DocTVII, com o roteiro de Elena Fioretti, sob direção da Tv Cultura.


Um dia que nunca esquecerei

É fato, que nem todos os cidadãos que aqui residem têm conhecimento da história do local ou da personalidade que o nomeia. Mas isso não impede que algumas pessoas vivam momentos especiais por lá, como é o caso de Stéfany Rosy, que, recentemente, se formou em direito, e teve sua colação de grau realizada no auditório do palácio, palco também do seu pedido de casamento.


Perguntamos para ela sobre o dia de sua formatura. “Tantos anos de estudo, lutas, dificuldades, vontade de desistir … E chegar naquele momento, no momento da cerimônia do capelo[chapéu utilizado pelos formando, em referência a colação de grau], passa um filme na nossa cabeça, eu só pensava: valeu a pena não desistir, eu consegui! Graças a Deus”. Rosy emenda falando sobre o pedido de casamento. “Todos choraram! O meu pedido, o tão esperado pedido (...) E olha, valeu a pena esperar! Dietison (o noivo) me surpreendeu com o pedido, foi muito melhor do que eu imaginava, hoje estamos em uma nova etapa, vivendo coisas pelas quais oramos, pagamos o preço, nos sacrificamos, mas Deus honra! Estamos escrevendo a nossa história, dia após dia” .


Rosy finaliza falando sobre as lembranças daquela noite. “Me formei com louvor, tenho um namorado/noivo/futuro marido maravilhoso, e tudo isso aconteceu naquela noite, no Palácio da Cultura. Noite que ficará marcada para sempre em nossos corações. Um lugar de muito amor e boas recordações.”


Para quem ficou interessado em conhecer mais sobre a história do Palácio e dos demais patrimônios históricos de Roraima, o Palácio da Cultura Nenê Macaggi fica localizado na Praça do Centro Cívico e funciona de segunda a sexta, das 8h às 18h.


Por Adriã Galvão| Aymeê Rodrigues| Eliane Guimarães| Jaqueline Thomaz| Laura Lima

Edição: Mariana Turco


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