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  • Foto do escritorCarol Domingos

Abandono e apagamento cultural é o reflexo da preocupação do Estado com a história de Roraima

Memórias, histórias e significados faziam parte do único museu construído em Roraima e edifícios que integraram a história do estado.


Por Carol Domingos e Yohanna Menezes

Local do antigo Museu de Roraima - Foto: Carol Domingos


O único Museu de Roraima foi demolido após uma década de abandono e descaso. É um cenário de apagamento histórico que o Estado tem demonstrado quando se trata das origens e tradições de Roraima.


Inaugurado em fevereiro de 1985, o Museu Integrado de Roraima (MIRR), foi gerenciado pela Fundação de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Estado de Roraima (FEMACT), dentro do Parque Anauá, em divisão com o Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, Cultura e Desporto, com o objetivo de pesquisar, cadastrar, conservar e expor objetos culturais e naturais do estado de Roraima.


Segundo o Prof. Dr. André da Fonseca (UERR), o museu integrava acervos etnográficos, históricos e botânicos. Obras, objetos de prestígio social e relíquias que mantinham vivas as histórias e recordações dos antepassados, sendo de extremo valor cultural e patrimonial no estado.


“Havia cooperação com o Museu Goeldi, fundado em 1868. Havia auditório, laboratório, revista científica. Foi assim o primeiro centro científico de Roraima, bem antes da formação das nossas primeiras universidades. O museu recebia visitas das escolas e da população em geral. Expedições científicas tinham para onde enviar seus achados, para que ficassem em nosso solo”, relata.

A empresária, Rose Medeiros, é uma das pessoas que visitou o Museu em uma expedição da escola. Ela recorda os tempos de visitações.


“Sempre tinha expedições através da escola. Vínhamos vários artefatos que faziam parte da história do estado, lembro que tinha exposições indígenas, vídeos-documentários e tudo mais”, relembra.

O museu contava com outras sede para realizar oficinas, seminários e também desenvolvia trabalhos nas áreas de conhecimento botânico, zoologia, etnologia, história e arqueologia, com intuito de interagir com o público roraimense. Além disso, o MIRR realizava documentários e artigos voltados à produção científica e arqueológica para Roraima.


O desinteresse dos gestores do estado na última década resultou em um espaço cultural transformado em ponto de encontro entre usuários e desabrigados. Ainda que em 2014, o governo de Roraima tenha recebido 400 mil reais de recursos para concluir a revitalização, a reinauguração nunca aconteceu.


Para o historiador, um museu precisa de recursos adequados para cumprir seu papel, inclusive um corpo de funcionários qualificado e especializado.


“Museus do mundo todo, atualmente, são espaços super dinâmicos, atraentes e interativos. Museus precisam questionar e estimular a criticidade”, afirma.


DIAS ATUAIS


Sem um espaço definido para expor o acervo que integrava o MIRR, os artefatos atualmente são mantidos por uma equipe de estagiários da Universidade Estadual de Roraima (UERR) para prosseguir na catalogação, higienização e organização.


“A direção procura fazer mostras temporárias na capital e no interior. No momento, alguns itens estão em uma exposição no Centro de Memória do Poder Judiciário, próximo ao Estádio Canarinho. Esperamos que a Casa de Cultura seja reaberta, após a restauração. A SECULT e o Centro de Documentação Indígena da Missão Consolata (CDI) também possuem acervos, mas ainda não possuem amostras sistemáticas, embora recebam pesquisadores e interessados”, destaca André.

Destroços e lixos no antigo MIRR - Foto: Carol Domingos


O Governo Estadual, apesar da demolição do MIRR, tem anunciado a recuperação de espaços históricos que integram a memória e a cultura de Roraima. Entre os lugares previstos no plano governamental está a Casa de Cultura Madre Leotavia Zoller, do Teatro Carlos Gomes e do MIRR. Mas, com exceção da Casa de Cultura, sem prazo e ainda sem projeto.


“São equipamentos públicos que estavam completamente abandonados por sucessivos governos, e temos esperança de que esse ciclo de negligência e profundo desprezo por nossa terra seja revertido pelo atual governo", comenta o historiador.


CURTA-METRAGEM - EM ALGUM LUGAR DO FUTURO


Em 2022, a Rede Amazoom em parceria com a Internews, no I Ciclo de Formação Complementar, desenvolveu durante a oficina “Audiovisualidades amazônicas e práticas etnocomunicacionais”, o curta-metragem “Em algum lugar do Futuro”, em tom crítico sobre o abandono do Estado aos seus patrimônios públicos. Pedro Alencar, radialista, repórter cinematográfico e editor da UFRR, explica como surgiu a iniciativa.


"Para quem é apaixonado pela sétima arte é sempre bom ver a juventude se dedicar ao audiovisual, me senti felizardo em fazer parte desse projeto”, detalhou.


Bastidores da produção do curta-metragem - Foto: Elane Oliveira


Daniela Batista, acadêmica do curso de Comunicação Social - Jornalismo, participou da elaboração do roteiro. Ela conta a experiência de fazer parte de um projeto que foi além do papel.


“O curta surgiu da ideia de trazer o sentido de nostalgia ao público, assim como fazer uma crítica ao Governo em relação ao abandono dos prédios públicos de Roraima”, disse.

Assista o curta-metragem aqui.

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