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  • Foto do escritorFabio Almeida

MST comemora seus 40 anos com amigos e apoiadores de Roraima


Foto Fábio Almeida

“Terra, Arte e Pão” é um dos lemas que embalaram o café da manhã oferecido, pela coordenação estadual do MST, aos amigos e colaboradores do movimento nas terras Makunai’mî. Realizado no último sábado (16/03/2024), o evento contou com a presença de professores universitários, artistas, profissionais liberais e claro, militantes do movimento dos sem-terra que se organizam em RR.


O evento integra uma programação que será realizada durante todo o ano de 2024, marcando o aniversário de 4 décadas do movimento que luta por uma reforma agrária popular. A data de 22/01, marca o início formal da jornada de luta pela democratização do acesso à terra do MST, neste dia foi realizado, em Cascavel (PR), o 1º encontro Nacional em defesa da terra, por reforma agrária e transformação da sociedade.




O escritor Tacio Oliveira, no vídeo acima, leu um de seus textos para celebrar o movimento organizado com coordenações em 24 estados da federação, tendo cerca de 400 mil pessoas assentadas e 70 mil acampadas na luta pela disponibilidade de terras de latifúndios improdutivos ou terras públicas. Estrutura-se em torno do MST 1.900 associações de trabalhadores e trabalhadoras, 185 cooperativas e 120 agroindústrias que potencializam, segundo Geomar Vilela, militante do MST/RR, a produção, beneficiamento e comercialização da produção.


Reforma Agrária Popular X Reforma Agrária  
Para Bia do MST, a diferença entre esses dois conceitos é enorme. Quando se reivindica apenas a reforma agrária, se reproduz um conceito burguês, vinculado apenas a disponibilidade da terra. Para nós do MST, a reforma agrária tem que ser um processo popular que integre um conjunto de direitos além do da democratização do acesso à terra. Exigimos saúde, educação, financiamento, lazer, esporte e cultura. A integralidade destes temas é que caracterizam a diferença conceitual entre o projeto de reforma agrária do MST, para o defendido por parte da burguesia nacional.

Uma das marcas da organização que cresce no país são os armazéns do campo. A lógica organizativa consiste em criar uma rede de comercialização da produção dos assentados da reforma agrária, consolidando desta forma toda uma cadeia produtiva que vai da produção a comercialização dos produtos. A lógica consiste em estruturar uma rede fora do mercado convencional de comércio, permitindo uma melhor remuneração dos trabalhadores, bem como a inserção dos jovens, filhos de assentados, em outros setores da cadeia produtiva, além do trabalho na terra.


Geomar Vilela militante do MST. Foto Fábio Almeida

Para Geomar Vilela, uma das grandes importâncias da classe trabalhadora sem-terra que se organiza em torno do MST e outros movimentos é a resistência e a luta contra o latifúndio, a partir de um modelo agroecológico, ou seja, alimentos sem veneno. “Lutamos não apenas pelo objetivo central de democratização da terra, somos um movimento que se articula com outras lutas da classe trabalhadora da cidade”, disse vilela. Essa relação com outros movimentos amplia a capilaridade da organização na luta concreta do povo brasileiro, extrapolando os marcos da luta pela terra. O programa de plantação de árvores liderado pelo movimento é um exemplo concreto dessa relação vitoriosa.


Brigada Oziel Alves
No intuito de formar novos quadros para o movimento o MST criou um programa de formação que leva o nome de Oziel Alves (17 anos) - militante do movimento assassinado, junto a outros 19 companheiros, no massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996 – no intuito de garantir quadros políticos aos diversos projetos e ações protagonizadas pelo movimento. Em Roraima, a turma conta com 15 estudantes que se encontram em processo de formação política. Para Bia do MST, isso demonstra o caminho acertado do movimento que além de contemplar a paridade de gênero nas direções possibilita que jovens e idosos tenham sua voz respeitada nos espaços de decisão do MST. Já Vilela, aponta que o processo de formação consiste em um divisor de água no país, ao demonstrar que a luta do movimento é uma luta permanente, portanto exige a formação de quadros de direção, por isso, a homenagem ao Oziel Alves, um combatente que perdeu a vida pela ação do Estado, na luta pelo direito constitucional a terra.

 

“Sempre fomos um movimento que defende os interesses de crianças, mulheres, jovens e idosos”, afirma Vilela, ao ratificar que o MST busca a transformação social, por meio da cultura e da educação, busca-se um novo ser humano. Um cidadão e uma cidadã que compreenda seu contexto social e promova mudanças em torno do bem viver e da solidariedade humana como referência de organização social. Por isso, para Vilela, a elite burguesa organiza ataques constantes ao movimento, como a CPI realizada em 2023, idealizada por representantes do agronegócio que querem centralizar a posse da terra em seus latifúndios e o direcionamento dos recursos públicos. “Nós lutamos contra essa hegemonia secular dessa elite agrária, por isso somos tão perseguidos e temos nossos quadros assassinados. Por isso, a formação é importante para nós e para nossa luta”, afirmou Vilela.


Organização do MST/RR


Bia do MST, Geomar Vilela e Job Martins. Foto Fábio Almeida

O movimento dos trabalhadores rurais sem-terra organiza-se em RR a partir de 2006. Em um primeiro momento, segundo o pesquisador e professor do curso de ciências sociais, Cacau, a partir de duas situações conjunturais: a primeira consiste na efervescência do movimento camponês no Estado e sua luta por terra, tendo apoio direto da CPT e da igreja católica; a segunda percepção consiste na relação que o movimento estabelece na República Bolivariana da Venezuela, onde atuava nas brigadas de fortalecimento da educação e programas de reforma agrária, projetos implementados pelo governo de Chaves. “Essa conjunção de interesses políticos somam-se a luta contra o latifúndio baseado em grandes áreas destinada para o agronegócio, nessa época menor que a realidade que vivenciamos em 2024, mas já promotora de distorções no acesso à terra”, afirma Cacau.


Professor Cacau do curso de ciências sociais da UFRR.

O objetivo de organizar os trabalhadores e trabalhadoras sem-terra, do campo e das cidades, sofre com uma breve desestruturação no Estado, voltando a se organizar em 2013, agora com um vínculo formal com a direção estadual do MST de Pernambuco, sendo recomposta a coordenação roraimense do movimento. “Essa direção estadual vem fazendo um trabalho de construção, junto as famílias assentadas e os sem-terra, promovendo uma alternativa da produção de alimentos saudáveis. Um trabalho muito importante, pois a luta pela reforma agrária, não consiste apenas no acesso à terra, mas, também, a cultura, ao lazer, a educação, a saúde. O movimento cumpre essa tarefa, com dificuldades, mas demonstra avanços importantes”, falou Cacau.


Para Cacau, a conjuntura política no país assumiu um novo paradigma, com a ascensão do governo anterior, expressamente contra a atuação de movimentos sociais. Essa situação não é solucionada com o atual governo, sendo a violência no campo um dos fatores importantes na mensuração desse quadro. “A disputa no campo brasileiro estrutura-se em torno da violência de grandes proprietários, contra pequenos posseiros. Hoje essa violência, especialmente na Amazônia, continua muito arraigada. Portanto, o movimento possui importância na aglutinação dos trabalhadores do campo e da cidade para resistir a esse processo de centralização da terra, promovido por grandes proprietários de terra”, falou Cacau.


Um movimento feito também por mulheres


Bia militante do MST. Foto: Fábio Almeida

Para Bia, militante do MST, as mulheres sempre foram parte integrante da luta pela terra no país. Desta forma, o movimento entende a essencialidade da participação feminina na luta pelo programa da reforma agrária popular. “Sem as mulheres a luta é feita pela metade, nossas vozes são importantes e o movimento compreende isso, tanto que nossos coletivos dirigentes, nossas brigadas, respeitam a paridade de gênero. Esse é um fator importante na consolidação do movimento nestes 40 anos, lutamos pela consolidação do novo homem e da nova mulher, onde a superação do machismo e do patriarcado é fundamental. ”, afirmou Bia do MST.


Congresso Nacional


Entre os dias 15 e 19 de julho de 2024, o MST estará realizando seu 7º congresso, na cidade de Brasília. Caravanas de todos os lugares do país deverão se deslocar para participar do processo de reformulação das linhas estratégicas e da luta tática do movimento para os próximos anos. A expectativa dos organizadores é garantir que cerca de 20 mil militantes participem presencialmente da etapa final desse grande movimento de massas que se iniciará nas cidades a partir de abril, mês de luta dos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra no país. A coordenação do MST/RR almeja garantir a participação de uma delegação de 460 pessoas de nosso estado, entre jovens, idosos, mulheres, indígenas, amigos e colaboradores do movimento em Roraima.

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