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Moda política: novas formas de aderir a um consumo consciente

Por Ana Paula Pires

TRABALHO ESCRAVO

Ao entrar em uma loja de roupas, já se perguntou “Quem fez aquela roupa?” e “Sob quais condições ela está trabalhando?”. De acordo com o relatório da Walk Free Fondation, o Global Slavery Index de 2019 estima que apenas da China, o Brasil importou de empresas com risco de escravidão moderna, 1.495.047 dólares em produtos de vestuário e acessórios de vestuário.

Em 2018, a “lista suja” do, atualmente extinto, Ministério do Trabalho, contava com 202 empregadores que utilizavam de trabalho escravo. Empresas como M.Officer, Americanas e Marisa foram flagradas utilizando de imigrantes bolivianos em condições análogas à escravidão.

“Eu não entendo, eu tenho uma amiga que diz costurar 100 peças por dia há um real, ela costura em São Paulo para essa empresa de vestuário de esporte. Quando chega nas lojas para vender, o preço é de 30 a 40 reais. Ela já esteve costurando para a loja “Tudo 10” e ela costurava a 0,50 centavos a peça. O salário dela é ela quem faz, já que é por peça”, conta a costureira, Maria Conceição.


“Eu já fiquei muito doente com essas questões de ficar pensando quem faz as roupas e como é a situação de trabalho delas. Percebendo que algumas grandes marcas usam mão de obra escrava, principalmente imigrantes bolivianos. É uma coisa que me deixou perturbada durante um tempo e fez eu buscar outras alternativas, pois têm muitas empresas que fazem uma coisa chamada Fashion Revolution, existem grupos que pensam nisso e cobram das empresas”, explica Julieth Giovanna, ex-dona de brechó online e acadêmica de artes visuais

Mas o que fazer para saber quais lojas não utilizam de trabalho escravo? O aplicativo Moda Livre auxilia os consumidores a saber quais lojas e empresas utilizam ou utilizaram de trabalho escravo. O app avalia as principais varejistas de roupa do país e empresas que foram flagradas pelo Ministério do Trabalho - MTE em casos de trabalho escravo, além de adotar um sistema de transparência com as empresas.


foto: Print do aplicativo Moda Livre

+ACESSÍVEL – SUSTENTÁVEL : A PROBLEMÁTICA DAS LOJAS FAST FASHION

Com o surgimento de lojas de departamento em Roraima, surgiu a acessibilidade a roupas baratas de uma moda rápida, com pouca durabilidade e má qualidade. O termo Fast Fashion é usado para descrever marcas que usam de moda rápida e acessível para todos os públicos, mas em compensação contribuem para o consumismo e geram um impacto muito grande no meio-ambiente.

De acordo com matéria “A derrocada da Forever 21, os jovens já não querem moda passageira”, feita pelo site de notícias El País, as gerações mais novas que estão passando por uma instabilidade no emprego e salários precários, estão também mais criteriosas ao decidir em o que gastar seu dinheiro, e se perguntando se vale mesmo a pena comprar peças de má qualidade e que vão deixar de estar na moda em menos de uma estação.

Mesmo assim, alguns consumidores ainda se consideram dependentes de lojas varejistas, por ser destinado para uma camada da população que não tem poder aquisitivo de comprar de grandes marcas.

“Na época não tinha loja de departamento em Roraima, era só boutique então era difícil. Com essa loja de departamento veio uma oportunidade de eu conseguir roupas de maneira mais acessível”, comenta Julieth Giovanna.

Segundo a Fundação Ellen MacArthur, cerca de 100 bilhões de roupas foram produzidas no ano de 2015. No mundo todo, cerca de 70% dessas roupas produzidas vão para aterro ou incineração ao final de sua vida útil.

ALTERNATIVAS DE MODA CONSCIENTE

Em 2017, a C&A preocupada com o impacto ambiental, lançou o Movimento ReCiclo. Disponibilizando um programa de coleta de roupas usadas, para pessoas, que não querem mais uma peça de roupa, poderem descartar corretamente. As roupas em boas condições são destinadas ao Centro Social Carisma, e as roupas que não estão mais em condição de uso são destinadas ao processo de manufatura reversa, sendo transformado após desfibração, em matéria prima para a indústria automotiva. O projeto está disponível em mais de 140 lojas pelo Brasil, em Roraima o único ponto de descarte se encontra na loja C&A no Pátio Roraima Shopping.

(Foto do instagram: Menos1lixoemrr)


SLOW FASHION

O Slow fashion surgiu como uma forma de fazer da moda uma área mais sustentável, priorizando a reutilização de peças e durabilidade. Além de uma valorização dos recursos locais, é focada em eliminar hierarquias entre estilistas, produtores e consumidores. Este tipo de moda usa de um sistema que evita intermediários na cadeia de distribuição e possibilita a uma distribuição econômica mais justa. São desenvolvidos artigos a preços justos que internalizem custos sociais e ecológicos da produção, valorizando os produtores, evitando o rápido descarte das peças e o consumismo.

Por causa do costume de comparar roupas baratas, como o Slow Fashion considera um preço visando os custos sociais e ecológicos, acaba que as pessoas não conseguem comprar de marcas que utilizam essa filosofia, por não ter um poder aquisitivo ou pela consciência do consumismo desenfreado.

“O Slow Fashion é uma roupa ou calçado que tem uma pegada mais da moda ética, consciente e sustentável, algumas empresas produzem peças veganas e com uma pegada sustentável que tem mais durabilidade, porém é muito caro. Então o sustentável ainda não é acessível, o brechó é uma das melhores opções para quem procura uma maneira consciente na moda”, explica Julieth Giovanna.

UMA ALTERNATIVA SOB MEDIDA

foto: Ana Paula Pires

Para quem busca uma moda consciente, humanizada e sustentável e se preocupa com quem fez a roupa que está vestindo, é procurar costureiras autônomas pois assim o consumidor paga diretamente pela mão de obra, além de ser um produto sob medida.

“Quando a gente faz uma roupa com costureira é uma peça única, acho que sempre que possível é bom comprar com costureiras e brechós, porque além de alimentar produtores e negócios locais, você tem um apego maior e não alimenta a produção e consumo de mais roupas de lojas de departamento”, comenta neta de Conceição, Samantha Stephany.

BRECHÓS COMO ALTERNATIVA DE UMA MODA CONSCIENTE


Foto: Ana Paula Pires - Feirinha Caju

De acordo com Samantha Stefhany e Julieth Giovanna, os brechós são uma boa alternativa para contribuir para uma moda consciente. “Eu penso muito no custo benefício, porque geralmente são peças mais baratas e como é brechó as vezes tem roupas de qualidade e aquela peça vai ser reutilizada. Uma pessoa que não vê mais utilidade naquela peça, repassa e outra pessoa compra”, diz Samantha Stephany.

Segundo Julieth Giovanna, construir um mercado local para brechós em Boa Vista é possível, mas existe uma “ponte quebrada” tanto entre os brechós, quanto os consumidores, pois a maioria dos brechós estariam localizados na periferia, em bairros distantes para muitas pessoas.

Recentemente há um considerável número de brechós locais online que estão incentivando a moda consciente e reutilizável, e por isso atraindo consumidores para essa nova perspectiva de comprar roupa.


infográfico: Ana Paula Pires

fonte: ecycle

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