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EFEITO COVID-19: entenda como motoristas de táxis lotação lidam com a pandemia

Atualizado: 26 de mar. de 2021

Por: Benison de Santana e Rafaela André


classe sofre com queda no seu faturamento mensal, tarifa tem reajuste e taxistas que vieram a óbito em decorrência da Covid-19.


(Foto: ASCOM Prefeitura)


Desde março de 2020, a vida do roraimense mudou. Principalmente, dos que residem em Boa Vista e precisam se locomover diariamente. A mudança ocorreu como consequência da pandemia do novo coronavírus, que impactou diversos setores da economia. Um deles foi o de transporte na capital, mas especificamente, a classe dos táxis lotação.

Neste contexto, a reportagem entrou em contato com o SINTACAVER-RR (Sindicato dos Taxistas, Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Transportadores Rodoviários de Cargas e Passageiros do Estado de Roraima) para entender de que forma os trabalhadores dos táxis lotação foram afetados de março de 2020 até os dias atuais.

O serviço de táxis lotação funciona da seguinte maneira: linha do centro/bairro e bairro/centro. A tarifa é única, independente do percurso. No entanto, o veículo passa apenas por avenidas marcadas como rota de cada bairro da cidade. E, como próprio nome diz, é lotação: usuário paga sua passagem e divide o mesmo transporte com outras pessoas, que pagam o mesmo valor pelo percurso. O horário de funcionamento é das 6h às 20h durante a semana e de 6h às 14h nos finais de semana.

Até o começo da pandemia, o valor da passagem era de R$ 4,50. Neste mês (março/2021), esse valor subiu para R$ 4,80.

Sem a população nas ruas, ficou difícil encontrar quem utilizasse os serviços e a demanda caiu. Assim, os motoristas tiveram que se adequar para encarar a nova realidade. Nas medidas impostas pelo município, o táxi só pode circular com três passageiros em sua capacidade máxima e não quatro como anteriormente, sempre com uso de máscaras, álcool em gel, e janelas sempre abertas..

Sem ao menos três passageiros, e sem alcançar a meta do mês, o trabalho dobrou e a renda continuou abaixo do normal. Em meio à crise no setor, o taxista ainda teve que se adaptar aos novos preços dos combustíveis que nos últimos meses sofreram reajustes.

De acordo com dados do SINTACAVER-RR, a frota do táxis lotação que atendem a capital é de 411 veículos. Em torno de 300 co-pilotos. Só de lotação envolve 700 trabalhadores sendo motoristas e seus auxiliares.

A média do faturamento de um motorista girava em torno dos R$ 3 mil mensal, que para grande maioria da frota, também é utilizado para pagar o aluguel do veículo.


( Foto acervo pessoal- Presidente do SINTACAVER-RE, Francisco Salles)


Para Francisco Salles, presidente do SINTACAVER-RR, está difícil alcançar a meta anterior a pandemia.

“O que mais afetou durante essa pandemia foram a questão dos decretos limitando a quantidade de passageiros. A meta do taxista do taxista desde o início da pandemia ninguém conseguiu mais atingir. As dificuldades continuam e está sendo imensa”, contou Salles.

Ele explica que grande parte do faturamento mensal é utilizado para arcar com a taxa de aluguel dos veículos. Salles informou ainda que os permissionários, que alugam seu veículo, tem sofrido com a crise no setor.

“Em média, um táxis lotação fazia cerca de R$ 3 mil e a maioria tem o carro alugado. Só que depois da pandemia, muitos tiveram que devolver o carro por não conseguir pagar o aluguel. Muitos permissionários reduziam o valor do aluguel. Grande parte estão com carro parado em casa, porque não acham quem queira trabalhar e quando arrumam, a pessoa devolve porque não da conta de pagar o aluguel”, explicou o presidente do sindicato.


Mudança de hábito e queda no faturamento: o que mudou de março de 2020 até o momento.



( Foto por Benison de Santana)


Janelas sempre abertas, uso obrigatório de máscaras, álcool em gel, e transportando outros trabalhadores do serviço essencial. É assim que os taxistas tem ganhado seu dinheiro durante este período pandêmico.

Eles tiveram que se adaptar ao dito “novo normal” para seguir trabalhando dentro dos decretos impostos pela Prefeitura de Boa Vista.



(Foto acervo pessoal - Presidente da Cooperativa de Passageiros de Táxi Lotação)


Luiz Alves é presidente da (Cooperativa de Transporte de Passageiros de Táxi Lotação). Conhecedor da vida de taxista e um dos representante da classe, ele relata algumas mudanças.

“Quando iniciou a pandemia, apesar da gente já estar preocupado com a saúde de todos nós, muitos colegas nossos param de trabalhar, outros não conseguiam fazer a meta. A gente carregava quatro passageiros, veio o decreto pediu que levássemos só três passageiros por cada viagem, aí ficou difícil nossa situação. Quer dizer, 80% da nossa meta foi defasada nos primeiros dias da pandemia”, lembrou.

Em meio a onda crescente de mortes em decorrência da covid-19 no país, Luiz Alves lembra como a classe tem se adaptado as mudanças para garantir a segurança de quem presta o serviço e de quem utiliza.

“Mudou muita coisa de março pra cá porque tivemos que mudar nossa rotina. A gente tem que seguir todo protocolo que o Ministério da Saúde pede, e também cumprir o decreto do município. Diminuir quantidade de passageiros, ter mais higiene no carro, andar com vidros baixos, não usar o ar condicionado, anda com álcool em gel, verificar se o passageiro e o próprio motorista está usando máscaras corretamente. Estamos cumprindo e usando seriedade com o passageiro”, afirmou Luiz.


Fabrício Silva é estudante, mora no bairro 31 de Março e recentemente começou a trabalhar na Ataíde Teive, bairro Asa Branca. Não é toda vez que utiliza um lotação, mas ele conta que percebeu a mudança.

“Você sair de casa já dá um certo receio. Encontrar e se aproximar de um desconhecido então nem se fala. Mesmo acanhado, entrei nos carros algumas vezes nesse mês e percebi que tanto os motoristas quanto os próprios passageiros tem tomado cuidados e isso é positivo. Mesmo assim é importante lembrar que só saia de casa se for realmente necessário”, relatou o jovem de 21 anos.



Aumento da passagem divide opiniões de taxistas e população



( Foto por: Rafaela André)


O novo aumento na passagem, agora R$ 4,80, divide opiniões de motoristas e passageiros. Mas, ambos concordam numa coisa: a tarifa precisaria aumentar. Motoristas relatam saber da dificuldade da população que tem sofrido com a pandemia, aumento no número de desempregados e consequentemente, menos pessoas utilizando o serviço. Entretanto, entendem o momento delicado que a economia do país passa na atualidade.

De acordo com o SINTACAVER-RR, a nova tarifa não é tão nova assim, trata-se do valor referente ao ajuste de 2019 e que só entrou em vigor em 2021. A classe fez o comunicado a EMHUR (Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional) e o preço passou a valer de 10 de março em diante.

“Essa tarifa foi reajustada em novembro de 2019, mas a classe entendeu que era melhor não cobrar os R$ 4,80 e permanecer nos R$ 4,50 até que houvesse o momento para fazer a cobrança. Devido ao aumento constante no preço da gasolina, em março de 2021, houve comunicação a EMHUR de que o táxi lotação iria cobrar a tarifa conforme já aprovado em 2019”, afirmou Francisco Salles, presidente do sindicato.


Há quem concorde e quem não concorde com a tarifa. Dona Zoila Sousa tem 45 anos, trabalha como diarista, usa o serviço durante três vezes na semana e afirma que já pensa em plano B.

“O preço da carne, dos alimentos subiu. O número de serviço que eu fazia caiu. Moro no Bairro Senador Hélio Campos e para chegar ao Paraviana onde tenho 2 patroas eu gastava R$ 9 só de ida. Isso porque tenho carona pra voltar. Esse percurso é feito três vezes na semana, principalmente aos domingos. Com esse novo preço é praticamente R$ 10 as duas viagens. E tem a parte do troco, porque tem vezes que não devolvem meus 20 centavos até por não ter moedas e a conta acaba fechando em R$ 5 a passagem”, disse a diarista insatisfeita com a nova tarifa.


Usuária assídua, Tânia Rocha é gerente de uma loja no centro. Mesmo sentindo a diferença no bolso, ela apoia o aumento sabendo da dificuldade que a classe vive.

“Pego um toda manhã e fim de tarde. Converso bastante com os motoristas. Acabo conhecendo o lado deles. São pais de família e precisam se virar pra atingir sua meta e pagar suas contas. Pelo que tô sabendo, não tá fácil a vida deles. E nem precisam me dizer muito, é só vê que quando a gente entra num lotação, não se vê tanta gente assim acenando a espera de um. Agora tem uma coisa, com tudo aumentando, espero que não haja outro aumento na tarifa, porque aí vai me quebrar e muito”, relatou a gerente.



Passageiros trocam lotação por aplicativos de mobilidade

Que a pandemia alterou bastante as vivências pessoais, não é novidade. Principalmente, na forma como as pessoas se movimentam.

Um levantamento realizado pelo Datafolha aponta que 38% dos brasileiros que não possuem veículo, acreditam que a bicicleta é o meio mais seguro para locomoção, seguido de aplicativos de mobilidade (35%). Táxi (9%) e o transporte público 4%.


Quando o Datafolha questionou os critérios importantes para escolher o meio de transporte, as medidas de contingenciamento da doença foram as mais mencionadas, segundo o gráfico abaixo:

O jornalista Nylo Monteiro é usuário assíduo do transporte por aplicativos de mobilidade e afirma que tem sido a melhor escolha durante a pandemia:







Sindicato aponta que oito taxistas foram vítimas da Covid-19 até o dia 24 de março


Conforme o Boletim Epidemiológico desta quarta-feira (24 de março) elaborado e divulgado pela Sesau-RR (Secretaria de Saúde do Estado de Roraima), o Estado contabiliza 88.458 casos confirmados no novo Coronavírus, destes, 1.303 pessoas perderam a vida para doença e 97 óbitos estão em investigação.

De acordo com o SINTACAVER-RR,, de março de 2020 pra cá, quando o Coronavírus começou a infectar à população de Roraima e o estado passou a ter os primeiros registros de infecção, cerca de oito taxistas foram vítimas da Covid-19, até o dia 24 e cinco encontravam internados no Hospital Geral de Roraima.

Segundo o sindicato, não há um número exato de recuperados, no entanto, o mesmo afirma que diversos motoristas se infectaram, mas se recuperam ou seguem se recuperando. Os motoristas de táxis-lotação que atestaram positivo para a Covid-19 tiveram que ser afastados dos seus serviços e cumprir quarentena.


Projeto de lei da Câmara Municipal busca insertar taxistas no ISS


(Foto: ASCOM- Prefeitura)


No dia 17 de março a prefeitura encaminhou à Câmara um projeto de isenção a taxistas convencionais e lotações. O documento prevê a isenção referente ao exercício de 2021 da taxa de renovação de alvará e descontos de 50% sobre o ISS (Imposto sobre Serviço de qualquer natureza). A iniciativa considera a crise financeira causada pela pandemia do coronavírus, que prejudica financeiramente toda população. Assim, aqueles profissionais que tiveram o movimento e a receita reduzidos por conta da baixa circulação de passageiros, poderá ser beneficiado.





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