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Cicatrizes na floresta: garimpo avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020

Atualizado: 16 de jun. de 2021

Fonte: Instituto Socioambiental (ISA)


Levantamento inédito aponta proliferação de novos núcleos de invasores mais próximos das comunidades indígenas, incluindo de grupos de índios isolados, e a abertura de novas rotas para dentro do território


Impacto do garimpo na região de Waikás, Terra Yanomami, em dezembro de 2020 . Fonte: Divulgação

De janeiro a dezembro de 2020, uma área equivalente a 500 campos de futebol foi devastada na Terra Indígena Yanomami, localizada ao extremo Norte do Brasil, entre os estados do Amazonas e Roraima. Quinhentos hectares de floresta Amazônica foram destruídos pelo garimpo ilegal no território indígena. O total de área desmatada é de 2.400 hectares - e somente em 2020 o aumento foi de 30%.


Mesmo com a pandemia da Covid-19, que já matou 300 mil pessoas em todo país, a atividade ilegal nunca parou, pelo contrário. Produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), o relatório ‘Cicatrizes na Floresta - Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY) em 2020’, lançado nesta quinta-feira (25/03), denuncia como a atividade criminosa se prolifera na terra indígena, subindo os rios e se aproximando cada vez mais das comunidades indígenas, com novas rotas de acesso ao interior da floresta.


O relatório destaca seis regiões especialmente afetadas pela devastação, como Waikás e Kayanau, com 35% e 23% do total das cicatrizes mapeadas, respectivamente. O documento aponta ainda a localização exata de novos núcleos garimpeiros nas calhas dos principais rios que correm pela terra indígena, em especial o rio Uraricoera, que concentra mais da metade (52%) de toda a área degradada pelo garimpo na terra indígena. Até recentemente, o garimpo “tatuzão do mutum”, às margens do Uraricoera, concentrava a maior parte da exploração na região. Hoje, além dele, surgiram três novas áreas de garimpo perto das comunidades de Aracaçá, Korekorema e dos Ye’kwana de Waikás.


A liderança Yanomami e xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, diz que está preocupado e revoltado com a atual invasão garimpeira. “Você vê a água suja, o rio amarelado, tudo esburacado. Homem garimpeiro é como um porco de criação da cidade, faz muito buraco procurando pedras preciosas como ouro e diamante. Realmente, retornou. Há vinte anos conseguimos mandar embora esses invasores e eles retornaram. Estão entrando como animais com fome, à procura da riqueza da nossa terra. Está avançando muito rápido. Está chegando no meio da terra Yanomami. O garimpo já está chegando na minha casa”, afirmou Kopenawa.


O relatório foi elaborado a partir de análises de imagens de satélite da constelação Planet e Sentinel 1, mapeamento mensal das áreas degradadas na TIY, e organização de informações oriundas de denúncias e relatos das comunidades. Um sobrevoo do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na TIY, realizado em dezembro de 2020, produziu o registro fotográfico que complementa o levantamento.



Povos isolados podem sofrer genocídio

O novo levantamento também denuncia como o avanço dos garimpeiros no território indígena tem levado doenças às comunidades, sobretudo malária e Covid-19, e colocado em risco a sobrevivência de grupos de indígenas isolados, ainda mais vulneráveis às enfermidades. “Os dados indicam também para o aumento da pressão sobre os grupos de indígenas em isolamento voluntário Moxihatëtëma, pressionados pelo aumento da circulação de garimpeiros na região da Serra da Estrutura a poucos quilômetros de suas comunidades. Um eventual contato forçado, nesse estágio, arrisca desencadear num trágico episódio de genocídio”, diz trecho do relatório.


Garimpo próximo à comunidade indígena na região de Homoxi, Terra Yanomami (dezembro de 2020) Fonte: Divulgação

O documento, assinado pela Hutukara Associação Yanomami e Associação Wanassedume Ye’kwana, demanda uma série de recomendações às autoridades e órgãos públicos, com destaque para a apresentação urgente de um plano integrado de desintrusão total do garimpo na Terra Indígena Yanomami, a retomada de operações periódicas na terra indígena para destruição da infraestrutura clandestina instalada e o avanço das investigações para identificar e responsabilizar os atores da cadeia do ouro ilegal.


Recentemente, a Justiça Federal brasileira determinou multa diária de R$ 1 milhão à União por não retirar garimpeiros da Terra Yanomami. A decisão exigiu a apresentação de um plano emergencial e estabeleceu 10 dias de prazo para o início da desintrusão.


O relatório será entregue pelas lideranças indígenas aos órgãos públicos federais responsáveis pela fiscalização territorial da TIY.


“A Hutukara já denunciou várias vezes a presença do garimpo, com documentos bem explicados e detalhados. Temos que entregar na mão do chefe da Funai, MPF e PF que são órgãos competentes que devem providenciar medidas para proteger nosso território. Devemos entregar o documento até na mão do presidente da República. Essa é a nossa luta e vamos continuar denunciando. Vamos lutar sem medo, estamos defendendo nosso direito, a nossa Terra Mãe. Eles não podem roubar a nossa Terra. Essa é a minha luta junto com os novos guerreiros”, finalizou Davi Kopenawa.


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