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  • Foto do escritorElane Oliveira

A Semana dos Povos Indígenas e a 52° Assembléia Geral dos Povos Tradicionais de Roraima

O evento foi realizado entre os dias 11 a 14 de março e reuniu cerca de 3.000 mil pessoas e, pela primeira vez, contou com a presença do Presidente da República.


Por: Elane Oliveira.

Indígenas participantes da 52° Assembléia Geral dos Povos Indígenas . Foto: Amazoom.

A 52° Assembléia Geral dos Povos Indígenas, foi realizada no Centro Regional Lago Caracaranã, na região Raposa, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada no município de Normandia. Estavam presentes mais de 3.000 mil indígenas e lideranças de diferentes etnias das regiões da Serra da Lua, Amajari, Serras, Tabaio, Murupu, Wai Wai, Amajari, Surumu, Alto Cauamé, Baixo Cotingo e Yanomami, que apresentaram suas demandas


A celebração ocorreu entre os dias 11 a 14 de março com o tema: “Proteção Territorial, Meio Ambiente e Sustentabilidade”. Este ano um ato inédito na história do evento foi a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


1° DIA (11/03)


O primeiro dia de celebração iniciou com orações, cantos e danças tradicionais. Kelliane Cruz, do povo Wapichana, foi eleita secretária Geral do Movimento de Mulheres Indígenas de Roraima do Conselho Indígena de Roraima (CIR), venceu com 143 votos, e ocupou o lugar de Maria Betania Mota de Jesus, do povo macuxi, que atuou a frente do movimento por 6 anos.


A nova secretária eleita é formada em Gestão Territorial Indígena pelo Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Como professora, entre os anos de 2019 e janeiro de 2023, atuou no Departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA) do CIR e assumiu a função em março de 2025.


Ela foi indicada por 5 regiões e agradeceu todo o apoio e votos de todos que confiaram à ela este cargo. “Agradeço por vocês acreditarem que nós, jovens, podemos ocupar os lugares”, disse.


2° DIA (12/03)


O segundo dia foi marcado pelas falas das lideranças indígenas das regiões da Serra da Lua, Amajari, Serras, Tabaio, Murupu, Wai Wai, Amajari, Surumu, Alto Cauamé, Baixo Cotingo e Yanomami relatarem sobre as suas atividades e planos de vida para as futuras gerações que buscam manter as tradições e cultura indigena.


A principal pauta foi o compartilhamento dos desafios enfrentados dentro das regiões e as preocupações existentes nos territórios indígenas. A coordenadora Vádelia Wapichana, da região do Murupu, destacou a importância da visibilidade na medicina tradicional, cujo trabalho é bastante procurado tanto na área rural quanto na área urbana por diversas pessoas.


Na segunda pauta do dia, associações e as organizações indígenas, como a Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR), Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM) e outras organizações apresentaram suas demandas no contexto do movimento indígena de Roraima, em especial a proteção das terras indígenas. O dia encerrou com a exibição dos filmes produzidos pelo povo Yanomami.


3° DIA (13/03)


O dia começou com a organização dos indígena por território e o preparo das crianças que iriam recepcionar o Presidente Lula e sua comitiva que estava prevista para chegar às 10:50 no Lago.


Pela primeira vez na história um presidente da república participou de uma Assembléia dos povos indígenas e ouviu diretamente às demandas das lideranças. Os rituais realizados antes de sua chegada foram significativos, o grupo de 14 crianças estavam preparadas para receber a comitiva com uma das tradições mais antigas e tradicionais dos povos indígenas, a dança parixara que reúne elementos musicais e corporais como forma de culto à colheita e caça.


Os representantes da comitiva foram apresentados, e em seguida as lideranças indígenas discursaram. A liderança Davi Kopenawa da Associação Hutukara reivindicou medidas de demarcação de terras e apresentou demandas na área da saúde, entre elas a construção de um hospital na região do Surucucu, muito afetada pelo garimpo.

“Doença continua. Não quero mineração na Terra Yanomami. Mata a alma do rio e da floresta. A destruição da nossa mãe terra significa a nossa destruição”, disse Kopenawa em discurso emocionado.

O presidente disse em seu discurso que pretende visitar a região novamente, ou marcar uma reunião com os representantes dos povos indígenas, para criar medidas em consulta com esses líderes.

“Eu prometo a vocês que regressando a Brasília vou tratar disso com carinho. Vou reunir os ministros ligados à área da produção para que a gente possa colocar vocês dentro de um programa de financiamento da produção agrícola para que vocês possam melhorar e aumentar a capacidade das coisas que vocês produzem”, afirmou Lula.

Além das demandas em saúde e demarcação, o presidente destacou o incentivo a atividades produtivas desenvolvidas pelos povos indígenas, que trabalham na produção sustentável de seus insumos. Ele disse: "Se nós temos dinheiro para financiar empresários, para financiar a agricultura familiar, para financiar os grandes proprietários, a pergunta que faço é a seguinte: por que não existe dinheiro para financiar os povos indígenas na sua produção?”.

“A nossa oportunidade de estar com o presidente hoje na Terra Indígena Raposa Serra do Sol é, de fato, mostrar a quantidade e qualidade de produção, mas também entregar as nossas reivindicações. É preciso construir essa forma de governar o Estado brasileiro com a participação dos povos indígenas”, disse em discurso o coordenador-geral do CIR.

Em fala ao CIMI, o Coordenador Geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista, avalia a visita do presidente.


“Nós avaliamos que foi muito positivo. Foi o momento de trazer o presidente para o nosso debate, no qual a gente discutiu três grandes temas: Proteção territorial, meio ambiente e sustentabilidade. Conseguimos fazer com que o Brasil e o mundo ficassem de olho, enquanto nós povos indígenas continuamos nos organizando para fortalecer a política do movimento indígena para que o Estado Brasileiro respeite a vida, a dignidade e a liberdade dos povos indígenas”, destacou o coordenador.


4° DIA (14/03)


No último dia de celebração foi realizada a cerimônia de posse da nova Secretária Geral do Movimento das Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR)


Na noite desta terça-feira (14) no encerramento da 52 Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, ocorreu a cerimônia de posse da nova Secretária Geral do Movimento das Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Kelliane Wapichana.


A cerimônia contou com a presença das coordenadoras regionais das regiões Amajari, Raposa, sucuba, Waiwai, Alto Cauamé, Surumu, Serra da Lua, Murupu, Tabaio, Serras, além da ex secretária Maria Betânia Macuxi que coordenou o cargo por seis anos, e demais participantes da Assembleia.


Cada coordenadora entregou um símbolo de força e parceria para seguir nessa nova caminhada A secretária Kelliane foi recebida com cantos e danças tradicionais pelas mulheres e a juventude. Para Kelliane, é um momento muito importante e desafiador.


"Quero agradecer a todas as regiões e as mulheres que possamos caminhar juntas. A emoção nesse momento é grande". Kelliane segue na secretaria até março de 2025.


Os presentes de Lula e Janja


O presidente Lula e sua esposa Janja ganharam presentes em nome de todos os povos indígenas presentes, ele ganhou um feixe de galhos que representa a união e força dos povos indígenas e ela ganhou uma panela de barro feita pelas indígenas da região da raposa.

Presidente e Primeira Dama recebendo os presentes ofertados pelo CIR. Foto: Amazoom.

O feixe de galhos é utilizado em celebrações importantes, e é carregado por tuxauas e autoridades indígenas no início das celebrações. O significado é de força e resistência dos povos indígenas. Eles relatam que “Um galho sozinho quebra fácil, mas vários deles unidos e amarrados em um feixe é inquebrável”. O presente foi entregue ao presidente como um símbolo da luta dos povos indígenas pelos seus territórios.


A panela de barro dada à primeira dama Janja, representa a união e diligência das mulheres indígenas de Roraima, produzida pelas artesãs da região da raposa a panela traz uma história ancestral em sua confecção.


Segundo os povos da região da raposa, ao produzirem essas panelas a mentora de toda essa tradição da panela de barro foi a Ko Ko Non, que em macuxi quer dizer “Vovó Barro”. Trata-se de uma entidade indígena, um ser ancestral responsável pelo trabalho realizado com a argila.

Assembléia Geral


A Assembléia Geral dos Povos Indígenas acontece anualmente para debates acerca das pautas indígenas do estado de Roraima. Este ano o tema foi “Proteção Territorial, Meio Ambiente e Sustentabilidade”.


A Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima é promovida anualmente pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e reúne cerca de 3 mil lideranças dos povos Yanomami, Wai Wai, Yekuana, Wapichana, Macuxi, Sapará, Ingaricó, Taurepang e Patamona, das mais de 32 terras indígenas do estado, além de organizações indígenas e representantes governamentais.

Dança tradicional indígena na abertura dos trabalhos da Assembléia do CIR. Foto: Thiago Marinho .

Participam do encontro a Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIRR), Hutukara Associação Yanomami, Associação dos Povos Indígenas do Estado de Roraima (APIRR), Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping), Associação Taurepang Wapichana Macuxi (TWM), Organização Indígena da Cidade de Boa Vista (ODIC), Associação Cultural do Estado de Roraima (Kapoi), Associação Kuakiri, Sedumy, Fenama Associação Yanomami, Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiur), União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), Urihi Associação Yanomami, ALIDCIR e Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai (Apiw).


Raposa Serra do Sol e o Lago Caracaranã


A terra indígena Raposa Serra do Sol é a 13ª maior área indígena do Brasil, e a 12ª da região Norte. Habitada por cerca de 28 mil indígenas das etnias Makuxi, Taurepang, Ingarikó, Patamona e Wapichan. Declarada como terra indígena desde 1998, só foi demarcada administrativamente em 2005, com a edição do decreto presidencial permanente. A região foi marcada pela operação policial para a retirada de arrozeiros que ocuparam a área. Apenas em 2008, a área se tornou segura para a ocupação indígena.


O lago Caracaranã fica localizado no município de Normandia, a 180 km de Boa Vista, capital de Roraima. É um dos pontos turísticos mais tradicionais e visitados do estado. Segundo a tradição indigena, que foi transmitida oralmente por gerações, o nome Lago Caracaranã é oriundo da palavra Kararana, que na língua Macuxi é remetido por uma lenda sobre um pássaro, o Carcará, que habitava na região e foi caracterizado pela sua expressão sonora.

O Lago Caracaranã é um paraíso sagrado para os povos indígenas de Roraima. Fotos. Amazoom.


É um paraíso sagrado para os povos indígenas, que após a demarcação ficou fechado. Depois de muitos estudos, reuniões e análises, o local foi reaberto para a visitação, que dispõe de lindas praias com areias finas e margem transparente.


Além de cajueiro e pé de azeitonas ao redor, o Lago possui muitas crenças e lendas indígenas, idealizando uma proteção que está dentro da água, uma cobra. Segundo os ancestrais, o animal é protetor da região, retirando todo espírito ruim que está à sua volta.

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