As intoxicações por esses insumos agrícolas podem acontecer por ingestão de alimentos contaminados e por contato direto com o insumo.
Por: Emily Soares e Elane Oliveira.
O uso de agrotóxicos vem crescendo fortemente nos últimos anos. De acordo com o Relatório de Consumo de Agrotóxicos, disponível pelo Instituto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em 2022 o Brasil utilizou 600 mil toneladas de agrotóxicos. A nível global o mundo utilizou aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos.
Os principais impactos ao ambiente e à saúde humana estão muito relacionados ao precário monitoramento da exposição aos defensivos agrícolas. A intoxicação indireta, alterações cromossômicas, o câncer, a paralisia, as doenças respiratórias e neurológicas são umas dos problemas advindo da exposição contínua de agrotóxicos.
A intoxicação vai além da ingestão de alimentos. Os trabalhadores em áreas agrícolas precisam utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), para diminuir os riscos de contaminação durante a aplicação de defensivos agrícolas. Além das capacitações com fito de conscientizar os trabalhadores para o uso correto dos produtos.
Atualmente há produtos alternativos que são menos nocivos, porém a falta de políticas públicas na divulgação e a massificação das tecnologias impedem o acesso do agricultor.
O professor do curso de Agronomia da UFRR , Jefferson Fernandes do Nascimento, possui doutorado em fitopatologia – área que estuda doenças de plantas – explica que os problemas do agrotóxico são estudados, mas ainda necessita de mais estudos específicos.
“A maioria do conhecimento produzido sobre o assunto no Brasil, tem foco nos efeitos agudos da exposição a essas substâncias e ao tipo de exposição ocupacional. Ainda é necessário mais pesquisas sobre a temática da exposição crônica laboral ou alimentar ", diz.
VÍTIMA DO AGROTÓXICO
Valexon Macuxi da Comunidade Indígena Morcego foi uma das vítimas do agrotóxico. O caso ocorreu em abril de 2019 quando um agricultor lançou agrotóxico por via aérea em uma produção de soja próximo aos limites da comunidade indígena. A vítima relata que por acontecer de forma silenciosa muitos foram afetados, dentro da comunidade sem saber o que era.
“A pele ficou irritada, falta de fôlego, ânsia de vômito, manchas pela pele, e coceiras por todo corpo. O estranho que deu em várias pessoas ao mesmo tempo. Tivemos que ser atendidos pela equipe médica da área e tomar remédios ", comenta.
As consequências da intoxicação aparecem até hoje quando ele se expõe ao sol, suas feridas ardem e com isso ele relembra o ocorrido. E alerta a toda comunidade indígena que pode um dia sofrer com esse tipo de contaminação e aos órgãos públicos que devem zelar pela segurança de todos os cidadãos.
“Sabemos que o país está passando por uma mudança, e vem o incentivo de grandes produções, mas esquecem das comunidades indígenas que ali vivem, também esquecem que haverá grandes mudanças climáticas e grandes catástrofes, e quem sofre é a população tanto indígena e não indígena.” alerta Valexon.
A quantidade de agrotóxico utilizado é determinada pelo Limite Máximo de Resíduos regulamentado pela LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989. Na qual estipula a aplicação adequada do consumo calculado pelo peso do agrotóxico, afim ou de seus resíduos por milhão de partes de alimento (em peso) (ppm ou mg/kg).
O equilíbrio em sua aplicação resulta em plantações e solos saudáveis sem comprometer a biodiversidade.
Camponesas do Lavrado e os alimentos orgânicos
O projeto "Camponesas do Lavrado” nasceu na Universidade Federal de Roraima como uma rede de apoio para um grupo de mulheres indígenas que vivem da agricultura familiar. A iniciativa funciona com cadastro de pessoas que pagam uma taxa mensal para receber uma bolsa com vegetais e frutos da estação. As produtoras ainda comercializam seus produtos em uma tenda que fica em uma feirinha no bairro Caranã.
Rossana Tartari, uma das articuladoras do projeto e Antena da Articulação Nacional de Agroecologia pelo seguimento da Amazônia em Roraima, explica como funciona o projeto.
“No caso das camponesas, três agricultores produzem alimentos saudáveis e orgânicos e uma vez por semana elas têm um ponto de partilha na Universidade Federal de Roraima (UFRR), elas vêm e dão uma cesta de alimentos orgânicos a cada membro desse coletivo que faz um cadastro. “ explica Rossana.
A nutricionista Karoline Aguiar conta que no seu período acadêmico o uso do agrotóxico era abordado na sala de aula acompanhado com a recomendação de higienização e produções caseiras.
“Possuir uma mini horta em casa é uma excelente opção para quem deseja ter mais segurança no alimento que está comendo e também é importante uma boa higienização, principalmente em hortaliças, com uma solução chamada hipoclorito para que não haja uma contaminação maior tanto do agrotóxico quanto outras existentes’’ finaliza.
A possibilidade de intoxicação também pode ser minimizada com a higienização correta das frutas, verduras e legumes já que retira a camada superficial do agrotóxico que está no alimento.
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