Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, reforçou as denúncias de fragilização do atendimento à saúde e crescimento do garimpo; tumulto interrompeu sessão na Câmara sobre mortes de crianças.
Nesta quarta-feira (24/11), Brasília foi palco de duas ações marcantes em defesa da Terra Indígena Yanomami, aterrorizada pelo avanço desenfreado do garimpo. Na primeira atividade, o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa, se reuniu com a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) e o representante do Escritório Regional para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Jan Jarab, para reforçar as denúncias de violação dos direitos dos povos Yanomami e Ye’kwana.
Ao final do dia, uma audiência na Câmara dos Deputados sobre as mortes de duas crianças indígenas, causadas por afogamento, em comunidade assolada por garimpeiros, terminou em empurra-empurra e ataques de deputados contra os indígenas presentes. Dário, que estava na sessão, foi impedido de falar devido à confusão.
Em encontro com o representante do ACNUDH, Dário relatou o cenário crítico vivido no território. “Eu atualizei as informações para o representante do Alto Comissariado. Trata-se de uma situação muito dramática com o avanço do garimpo ilegal, acompanhado de uma crise sanitária. Falei também da contaminação por mercúrio dos nossos principais rios, como Uraricoera, Mucajaí, Apiaú e Catrimani. Estamos muito preocupados e tristes com o abandono e o descaso do Governo Federal, pois estamos morrendo cada vez mais, homens, mulheres e crianças por malária, desnutrição e pneumonia e outras doenças”, lamentou.
A reunião ocorreu no gabinete da deputada Joênia Wapichana, que fez um breve resumo sobre as ações de seu mandato contra as violações dos direitos humanos do povo Yanomami denunciadas pela Hutukara. A deputada falou que cobrou do Ministério da Justiça (MJ), da Polícia Federal, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Conselho Nacional da Amazônia providências para combater o garimpo na Terra Indígena Yanomami.
No encontro, Dário convidou Jarab para ir à Terra Yanomami. “Nosso território está sendo destruído pelos invasores. Ele pode visitar a aldeia onde duas crianças morreram afogadas, pela ação de uma draga de balsa de garimpo”, afirmou.
Dário também entregou uma carta a Joênia solicitando resposta à crise sanitária e a reestruturação do atendimento à saúde na Terra Indígena Yanomami, propondo diversas ações na tentativa de garantir e restabelecer uma saúde digna a essas populações. Leia o documento.
O representante do ACNUDH demonstrou preocupação com os fatos apresentados e ressaltou o comprometimento com a garantia dos direitos dos povos indígenas. Ele disse que o Escritório seguirá atento e acompanhando as denúncias, assim como a proteção das comunidades indígenas no país.
Tumulto na Câmara
Já no período da tarde, Dário participou de audiência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Estavam presentes o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, o presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier da Silva e o superintendente da Polícia Federal em Roraima, José Roberto Peres, convidados para prestarem esclarecimentos sobre a morte das duas crianças Yanomami na comunidade Macuxi Yano.
Os parlamentares exigiram das autoridades explicações sobre a falta de ações frente às denúncias dos Yanomami e Ye’kwana em relação às violações causadas pelo garimpo ilegal em seus territórios tradicionais, e demonstraram indignação pela existência de tantos garimpos ilegais operando na região com a conivência do Estado.
No entanto, durante a audiência, Torres e Xavier negaram que a morte das crianças tivessem relação com o garimpo ilegal, contrariando o depoimento das famílias, e relativizaram as ameaças à vida e integridade pessoal sofridas pelos Yanomami e Ye’kwana. Tampouco apresentaram um plano de ações estratégicas para a proteção territorial da TIY e melhoria do atendimento à saúde na TIY.
A audiência teve que ser encerrada por conta de um tumulto, iniciado quando o deputado Coronel Chrisóstomo (PSL-RO) desdenhou os representantes dos povos indígenas da Amazônia, defendendo as políticas do presidente Jair Bolsonaro. Em resposta, um grupo de indígenas que acompanhava a audiência protestou diante das falas do deputado e a audiência terminou suspensa pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputado Carlos Veras (PT-PE).
“Eu não tive a oportunidade de falar porque a audiência foi suspensa. Os deputados queriam ouvir os esclarecimentos da morte das crianças, mas isso não foi feito, não discutiram os pontos principais. O próprio ministro não explicou qual é o dever da segurança pública para o apoio na proteção dos povos Yanomami e Ye’kwana”, afirmou Dário. Ele disse que vai seguir denunciando as violações registradas na Terra Indígena Yanomami.
A maior Terra Indígena do Brasil sofre com a invasão de mais de 20 mil garimpeiros. Dados mais recentes do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami (SMGITIY), revelam que, em setembro deste ano, a área total destruída pelo garimpo superou a marca de três mil hectares, o que representa um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020.
A incidência de malária também está entre as principais preocupações no território. Em menos de dois anos, foram 44 mil casos. Apenas no ano de 2020, a Terra Indígena registrou 47% de todos os casos de malária diagnosticados nas Terras Indígenas localizadas em território nacional.
Fonte: ISA
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