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Da comida aos copos: o descarte de resíduos sólidos dos restaurantes universitários da UFRR

Campus do Paricarana e Murupu possuem estratégias ambientais distintas em seus restaurantes


Por: Francisco Eduardo


Para muitos estudantes, a universidade é considerada a sua segunda casa devido à quantidade de tempo que permanecem no ambiente ao longo do dia. Desse modo, os intervalos cotidianos para as principais refeições como o almoço e a janta acabam se incorporando à rotina acadêmica nos restaurantes universitários.


Além de ser um espaço de integração e aproximação com alunos de outros cursos, um restaurante universitário também facilita a permanência de muitos acadêmicos em vulnerabilidade financeira e locomotiva com auxílios e descontos oferecidos pela sua instituição de ensino.


Com tamanha demanda de alimentação para a comunidade acadêmica, os restaurantes universitários fazem uma administração ambientalmente adequada do descarte de comida? Existe um padrão de ações sustentáveis para esses espaços nas universidades? De forma adequada ou não, tudo é relativo de instituição para instituição.


No campus Paricarana da Universidade Federal de Roraima (UFRR), cerca de 750 estudantes almoçam e jantam por dia no restaurante universitário tendo o maior fluxo de pessoas concentrado no horário do almoço. Com essa demanda, há uma quantidade significativa de comida desperdiçada diariamente. “Antigamente havia coleta seletiva para todo o lixo produzido em nosso restaurante, mas nos últimos anos tudo vai direto para o lixão”, afirma Luciana Oliveira, nutricionista do R.U. Atualmente, apenas 18% dos municípios do país possuem coleta seletiva.

Mesa de alimentos do RU do campus Paricarana. Foto: Francisco Eduardo

De acordo com estudo realizado por nutricionistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o constante desperdício de alimentos em todos os restaurantes universitários do Brasil tem como principais causas o planejamento inapropriado da quantidade de refeições a serem produzidas, instabilidade na frequência diária dos comensais, preferências alimentares dos estudantes e o treinamento aplicado aos servidores dos restaurantes para porções adequadas/inadequadas dos alimentos e suas preparações. Da mesma forma na UFRR, o descarte envolve perdas que variam desde alimentos que não são utilizados, preparações prontas que não chegam a serem servidas e também as sobras nos pratos dos estudantes que são destinadas para o lixo. “Às vezes é possível separar um pouco da comida que sobra para animais que vivem na universidade e é o máximo que dá para se fazer”, afirma Luciana Oliveira. Desse modo, a comida que vai para o lixo se torna um grande desafio ambiental a ser resolvido.

Arte: Francisco Eduardo

O desperdício de comida nos restaurantes universitários também é um reflexo do que é descartado na casa das famílias brasileiras. A média de alimentos desperdiçados por domicílio é de 353 gramas por dia. Por indivíduo, a média é de 114 gramas diárias. Em alguns restaurantes, cada porção de alimento é servida pelos funcionários, mas no caso da UFRR apenas as porções de carnes e salada são colocadas pelos membros do restaurante. Os outros alimentos como o arroz, feijão e macarrão são servidos de forma livre pelos próprios estudantes.


Outro problema ambiental comum em restaurantes universitários é o uso excessivo de copos plásticos que são distribuídos para servir os refrescos aos estudantes. A demanda mensal de alunos atendidos no restaurante universitário do campus Paricarana da UFRR requer o uso de mais de 15 mil copos descartáveis, que também vão direto para o aterro sanitário de Boa Vista devido a falta de políticas ambientais para o material. Por ser o resíduo sólido urbano menos reciclado no mundo, o índice de reciclagem do plástico no Brasil não supera a marca de 20% anualmente.


No restaurante universitário da Escola Agrotécnica, localizada no campus Murupu da UFRR , a realidade é totalmente oposta. Para minimizar os impactos ambientais, foi adotado o uso de canecas reutilizáveis no restaurante para evitar o consumo de copos descartáveis. Segundo o gerente do restaurante universitário, Miqueias Tabosa, a ideia surgiu de um projeto criado pelos próprios alunos. “Antes nós usávamos mais de 3 mil copos semanais. Nos reunimos com a direção da escola e o representante da empresa que abastece o restaurante e o projeto saiu do papel”, diz Miqueias. A ação já é praticada há dois anos no restaurante e já demonstra resultados positivos a longo prazo. “Realmente funciona, pois a escola está menos suja e diminuiu também o serviço da equipe de limpeza. Esse projeto tanto a natureza quanto a escola”, afirma o gerente.

Descarte de copos descartáveis no RU do campus Paricarana. Foto: Francisco Eduardo

No Brasil, diversas universidades já aderiram a prática do uso de materiais reutilizáveis para servir bebida aos estudantes ou até mesmo permitem o uso do copo individual no restaurante universitário, evitando o desperdício de centenas de milhares de copos plásticos.


Luan Selfish, acadêmico de Comunicação Social, utiliza o restaurante universitário do campus Paricarana desde quando ingressou a universidade em 2015 e acredita que o espaço também pode adotar políticas sustentáveis de consumo. “Apoio as mesmas ações que já ocorrem nos restaurantes de outros estados. Em um congresso em Juíz de Fora - MG, observei que quase não existiam copos descartáveis no restaurante e acho que também podemos contribuir com o meio ambiente através de projetos em nossa universidade”, afirma Luan.

Arte: Francisco Eduardo

Na UFRR, as burocracias institucionais dificultam a possibilidade de estabelecer uma maior flexibilidade com projetos sustentáveis e políticas ambientais no restaurante do campus Paricarana. “Já é difícil conseguirmos reformas, então logo também é complexo dar andamento a licitações de copos reutilizáveis. Infelizmente, tudo requer dinheiro”, afirma Dhessyk Duarte, Chefe de Divisão de Moradia e Restaurante Universitário.


Quanto ao uso de campanhas de conscientização nos espaços físicos do restaurante, a universidade enxerga a ação de forma mais acessível. “Se a empresa ver que essas ideias geram benefícios e não interferem nos critérios do contrato com a universidade, é mais viável implementar essas campanhas”, diz Renata Oliveira, administradora da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Extensão - PRAE.


O papel do Estado no que se refere aos cuidados com o desperdício de alimentos e copos plásticos se encaixa na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/10. Infelizmente, a atuação da lei no país é praticamente utópica devido ao fato de que ano após ano, o aumento de lixo produzido no Brasil é cada vez mais crescente e os índices de reciclagem diminuem. Os lixões a céu aberto, que abarcam a maior parte dos descartes dos restaurantes universitários, por exemplo, deveriam ter sido eliminados após o prazo determinado pela lei quando entrou em vigor.


A lei determina diversas ações e medidas de gerenciamento ambiental que devem ser atendidas em âmbito nacional. Na prática, as empresas e instituições que não cumprirem com os termos da lei, devem ser multadas, pois a mesma prevê que ambas entidades tanto do setor público ou privado devem criar alternativas para um descarte e aproveitamento consciente de todo o seu lixo produzido. Esses resíduos sólidos citados na lei da PNRS só não contemplam materiais de composição radioativa, já que possuem sua própria lei de diretrizes e termos de cumprimento.


Mesmo existindo leis federais para o descarte de alimentos e copos descartáveis nos restaurantes universitários de todo o país, ainda é um tarefa individual, e mais do que nunca deve ser pensada de modo coletivo, contribuir com o meio ambiente dentro do recorte social em que cada pessoa está inserida.

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