Seminário debate fortalecimento da saúde indígena
O envento continuará até a próxima sexta-feira, encerrando com a realização da 104ª reunião do controle social da saúde indígena do DSEI-Leste. O Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI), do DSEI-Leste, iniciou nesta terça-feira o I Seminário Distrital de Saúde Indígena. O evento durará até o dia 26/05/2023, tendo como objetivo central refundar o processo de organização dos serviços e ações de atenção primária, oferecidos aos 60 mil indígenas que compõe 11 regiões organizativas do espaço geográfico das terras indígenas atendidas, sendo: Serras, Surumu, Baixo Cotingo, Raposa, Amajari, Taiano, Murupu, Serra da Lua, Ingarikó e Wai-Waie São Marcos. A abertura do evento foi realizada com cânticos de boas vindas aos representantes do conselho distrital de saúde, conselhos locais de saúde, lideranças das regiões e servidores do DSEI-Leste. Durante a recepção foi realizado o ritual de defumação com o Maruai para promover a paz espiritual durante a realização do evento. Para Lúcia Patamona não é possível iniciar um trabalho sério como esse sem a conexão com a cultura dos povos indígenas. Os cânticos e a defumação fortalecem nossas vidas. O objetivo central do encontro é possibilitar debates em torno de três eixos que estruturarão a gestão da saúde indígena no Dsei-Leste. O primeiro deles é a transparência na gestão dos recursos financeiros e na formulação de políticas públicas. O segundo é o fortalecimento do controle social como oportunidade estratégica de possibilitar uma gestão compartilhada . As falas dos participantes reforçaram a unidade de trabalhadores e trabalhadoras, usuários indígenas e gestores no processo de reconstrução da saúde indígena, após os 6 anos de desmonte promovidos pela política de ódio e neoliberal do governo federal que terminou em dezembro de 2022. O primeiro dia das atividades contou com apresentações técnicas sobre a organização dos serviços, as dificuldades enfrentadas e as sugestões para melhoria das ações. Também foi realizado uma avaliação dos indicadores de saúde e cumprimento das metas previstas no Plano Distrital de Saúde Indígena (PDSI). Os conselheiros de saúde usaram a fala para criticar principalmente a falta de profissionais de saúde nas equipes, a dificuldade de materiais para desenvolvimento das ações. Os representantes do DSEI-Leste em suas respostas apontam que a centralização das aquisições de serviços e bens dificultam muito o deenvolvimento das atividades dos distritos. A diminuição dos investimentos também inibiram o cumprimento de boa parte das atribuições das equipes. Sendo citado o exemplo do programa de saúde da mulher que desde o ano de 2019 não adquiri instrumentais para realização do exame de prevenção do câncer de colo de útero. Uma outra dificuldade consiste nas empresas que ganham pregões eletrônicos e não cumprem com os contratos, dificultando também as ações do Dsei-Leste. Para o Presidente do Condisi, Adelinaldo Silva, o evento possibilitará reverter o retrocesso da organização da saúde indígena no território, ocorrido nos últimos 4 anos. “O seminário possibilitará aos indígenas definirem diretrizes para organização dos serviços nessa retomada da participação popular por meio do conselho distrital de saúde, fazendo com que a saúde chegue em nossas comunidades”, falou Adelinaldo. A retomada do protagonismo do controle social para Adelinaldo Silva é fundamental ao processo de reorganização das ações e serviços de saúde. "Chegamos a um novo tempo, onde além de retomar nosso direito de fala, conquistamos a indicação, pelo movimento indígena do Coordenador do Dsei-Leste. Esse é um momento nosso para redirecionamento do cuidado com nossa saúde", falou Adelinaldo. O Coordenador do DSEI-Leste, Zelandes Patamona, falou que o seminário marca o início efetivo de sua gestão, ao promover uma escuta das lideranças indígenas no intuito de balizar as ações e serviços a serem ofertados nas comunidades. “Chegamos no Dsei-Leste com um enorme desafio em virtude do orçamento que temos disponível ser o mesmo do ano de 2015. Isso graças a eleição do presidente Lula que recompôs o orçamento da saúde indígena, duramente reduzido pelo governo anterior em quase 60%”, disse Patamona. Zelandes é o primeiro gestor indígena de saúde a assumir a responsabilidade sanitária por um distrito em Roraima. Para ele, a emoção é muito grande, somando-se a responsabilidade que não permitirá erros. “Não vamos cometer os erros de gestores anteriores, o maior exemplo é esse encontro que reconduz o papel central dos usuários indígenas na formatação das políticas de saúde”, afirmou Patamona. Além da reorganização dos serviços e a garantia do atendimento humanizado nas comunidades e a melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde, Zelandes Patamona, pretende fortalecer o processo de inserção de indígenas na gestão e prestação de serviços de saúde, além de fortalecer a medicina tradicional, envolvendo as atividades das parteiras tradicionais, o uso das plantas medicinais e o papel do pajé no âmbito das unidades básicas de saúde indígenas (UBSI). Para o coordenador do CIR, Edinho Batista, um dos temas importantes a ser debatido no encontro é questões em torno dos determinantes de saúde que levam ao adoecimento dos indígenas. “Nossos igarapés e o ar estão sendo envenenados. Nossos territórios estão sendo destruídos. Não adianta termos muitos médicos, grandes hospitais se podemos já nascer doentes devido ao adoecimento da nossa terra com os venenos usados na mineração e na agricultura. Todo dia tomamos água contaminada. Todo dia nossos territórios são banhados por veneno jogados por aviões. É preciso falar destas questões, se quisermos falar em qualidade de vida e saúde”, falou o coordenador do CIR. Para Edinho é fundamental compreender que passamos por um momento difícil com as mudanças climáticas. "É preciso que esse seja um tema também da saúde indígena", segundo ele é fundamental a criação de um plano de enfrentamento das mudanças climáticas que já atingem as comunidades nos territórios, temos locais que já estão sofrendo com alagações que não ocorriam no passado. Para o conselheiro distrital de saúde indígena, Zenilton Peixoto, é fundamental que a nova gestão do DSEI-Leste fortaleça os serviços dos agentes indígenas de saúde e saneamento. “São esses profissionais de saúde que efetivamente estão o tempo todo em nossas comunidades. Precisamos começar a pensar em uma seleção diferenciada para enfermeiros e técnicos de enfermagem indígena. Não tenho nada contra os profissionais de saúde não indígenas, mas é importante que possamos começar a fixa nas comunidades nossos indígenas como profissionais de saúde”, falou Zenilton. Para ele é fundamental que a luta pela saúde, educação e terra continue a ser uma baliza do movimento indígena e do CONDISI, pois sem a terra não há saúde e nem educação. Apresenta a importância da união das lideranças indígenas para valorização dos profissionais de saúde indígena e da nossa medicina tradicional, considerada por todos como muito importante para resistência a Covid19. “Esse seminário é o primeiro passo para retomada da saúde. Lutamos há muitos anos por esse espaço e precisamos avançar não apenas na melhoria dos serviços, mas também no protagonismo dos indígenas nos serviços de saúde”, falou Zenilton. A coordenadora do seminário, Iolanda Silva, parteira em sua região e assessora especial de saúde indígena, defendeu a valorização dos pajés e das parteiras. Segundo ela não existirá uma saúde indígena diferenciada sem o reconhecimento da ancestralidade das comunidades indígenas. Fortalecer a saúde indígena passa pelo controle social. Clóvis Ambrósio é uma das principais referências na luta pela garantia da saúde indígena no Brasil. Em Roraima, ele coordenou o CONDISI, do DSEI-Leste, até o ano de 2015, promovendo uma efetiva luta pelos direitos dos povos indígenas a efetivação do subsistema de saúde indígena, aprovado pela Lei 9.836/1999 . Além de representar os indígenas do país no âmbito do Conselho Nacional de Saúde. Durante o encontro Ambrósio fez um lindo relato sobre os povos indígenas, o Amazoom disponibiliza esse áudio para que possamos compreender a luta deles pelo direito à saúde. Para Clóvis, a luta pela garantia de orçamento é essencial ao cumprimento das metas e diretrizes a serem aprovadas. “Não adiantará muito nossa atividade se o governo não garantir o dinheiro. Precisamos lutar pelos recursos necessários para melhorar os serviços no distrito, quero antes de morrer, poder ver construída a unidade de saúde de minha comunidade”, falou a grande liderança indígena de Roraima, Clóvis Ambrósio.