top of page

Memórias fronteiriças: Relatos das experiências de migrantes e vivências jornalísticas

A fronteira Brasil-Venezuela foi foco dos principais veículos de comunicação nacionais e internacionais. Entre memórias e perspectivas futuras expostas nos vídeos, se fecham os registros de cada reportagem identificada, nas folhas de papel, na tela da televisão, nas ondas do rádio, na palma da mão. Fechada há dois meses após decreto do presidente Nicolás Maduro, militares da Guarda Bolivariana fortemente armados, impedem a entrada e saída pela a zona neutra segue sem muito movimento. Em contrapartida, as trilhas ou rotas clandestinas continuam com tráfego intenso de pessoas e veículos. Segundo dados do Exército Brasileiro, o fluxo caiu para menos da metade.

O intuito é mostrar a realidade de brasileiros e estrangeiros no município de Pacaraima, após a instalação do bloqueio militar venezuelano na fronteira. Percorremos alguns trajetos utilizados pelos migrantes para entrarem no Brasil, comprarem mantimentos e retornarem ao seu País. Em uma das rotas, onde o Exército Brasileiro faz o controle, veículos venezuelanos trafegavam normalmente. Do outro lado, a Guarda Bolivariana cobra pedágio para o livre acesso das pessoas.

O fluxo migratório venezuelano, na cidade de Pacaraima, começou a ter registros de queda no primeiro trimestre deste ano, conforme informações obtidas no Posto de Recepção e Informação (PRI), da Operação Acolhida, coordenado pelo Exército Brasileiro.

Os dados foram registrados após o fechamento da fronteira, no dia 21 de fevereiro, quando saiu uma determinação do presidente, Nicolás Maduro, para barrar a ajuda humanitária oferecida pelos EUA e por países latinos, incluindo o Brasil, após pedido do presidente autoproclamado Juan Guaidó.

Pacaraima registrava em média 800 entradas de venezuelanos no Brasil por dia. Em 2018, o PRI registrou mais de 67 mil entradas, sendo aproximadamente 560 por dia. Com o bloqueio, os números caíram para 12 mil entradas, o que equivale a cerca de 300 ao dia, uma redução de 62% se comparado ao mesmo período do ano anterior.

Morador da região há 20 anos, Manoel Valdez, relatou à reportagem que durante o período de bloqueio já avistou alguns carros liberados para transitar de um lado a outro da fronteira. Ele afirmou que para quem paga a famosa propina o acesso é livre.

"Todos os dias faço caminhada próximo à entrada do país vizinho. Alguns são privilegiados e podem pagar para entrar no Brasil, outros precisam procurar caminhos diferentes. Com esta situação, ambos os lados saem perdendo, principalmente a Venezuela com essa crise econômica estabelecida", explicou o homem.

O movimento de pedestres é constante pelas trilhas alternativas. Os migrantes vêm ao Brasil em busca de alimentos, medicamentos e outros. Em uma das rotas clandestinas até veículos estão atravessando.
Rotas Alternativas

Localizado a mais de mil metros do marco BV-8, divisa entre os países, um dos trechos da fronteira recebe a fiscalização do Exército Brasileiro, por meio da "Operação Controle". A ação tem o objetivo de monitorar, fazer a vistoria pessoal e veicular de quem pretende atravessar para a Venezuela, solicitando inclusive a apresentação dos documentos dos motoristas.

Segundo relatos de militares, a atividade busca patrulhar o que antes era denominado "rota clandestina". Além disso, a proposta da operação é fechar trajetos perigosos para os migrantes, como a entrada pelo Micaraima, onde atualmente está centralizado um dos postos fixos dos oficiais.

A distância entre Santa Elena de Uairén e Pacaraima corresponde cerca de 20 quilômetros. Veículos automotivos realizam este trajeto em 30 minutos, mas para quem decide ir a pé, este percurso leva em torno de 3h33.

Outras histórias

Para conseguir alimentos e remédios do lado brasileiro, o morador de Maturín, capital do estado de Moganaz, Alex Jus, de 35 anos, disse que sempre utiliza a rota alternativa.

"Só vamos às compras e retornamos. Para nós, esta passagem é uma boa opção. Mas não deveríamos ser submetidos a isso, porque estamos presos como fossemos animais sem ter o que comer. A Venezuela não deveria estar assim, pois contamos com muita riqueza e o governo está roubando as pessoas", desabafou.

Outro estrangeiro, que também se sente afetado diretamente com a situação, é o profissional de relações industriais, Alfredo Moreno, de 28 anos. Segundo ele, a possibilidade da reabertura da fronteira, aumenta as expectativas de melhorias para o país.

"A situação é complicada porque precisamos passar por esta situação, se deslocar para fazer compras tão simples fora do nosso país. Somos trabalhadores e estamos esperançosos de que as coisas vão melhorar. Agora, por exemplo, vamos ao mercado em busca de refrescos e algo para comer".

Até o momento não há previsão para a normalização do tráfego de veículos e de pedestres. Mesmo com a recente declaração de Maduro sobre a reabertura da fronteira, a população brasileira e venezuelana ainda espera uma decisão.

Com relação à ajuda humanitária, todo o material doado pelo Brasil e Estados Unidos está guardado na cidade fronteiriça. Os caminhões foram devolvidos aos proprietários e o Exército aguarda o posicionamento dos dois países para saber o que fazer com as doações.

Memórias fronteiriças: Relatos das experiências de migrantes e vivências jornalísticas
bottom of page