Dinheiro “fácil” e dependência emocional seria os principais motivos da entrada de mulheres no mundo
Por: Camilla Cunha e Laura Alexandre Vemos que a cada dia a mulher vem conquistando mais espaço na sociedade e, com ele, grandes conquistas como a independência financeira. Mas, levando em consideração os aspectos relacionados ao mercado de trabalho, o desemprego leva não só as mulheres, mas também os homens, à exclusão social e a pobreza; diante das dificuldades e na busca por uma vida financeiramente estável, uma parcela das mulheres passa a se envolver em crimes, em sua grande maioria objetivando o dinheiro fácil e outras por terem um parceiro envolvido em grupos criminosos e serem influenciadas por eles. Muitas dessas mulheres alegam que o círculo é vicioso, o que as fazem estarem cada vez mais íntimas do crime. Em Roraima, temos visto nos veículos de comunicação do estado, noticias constantes que envolvem mulheres presas ou envolvidas em facções criminosas. Mesmo diante desse cenário, a delegada Jaira Farias disse que atualmente não existe nenhuma investigação destinada a investigar mulheres que estariam envolvidas com facções criminosas. (Foto: Arquivo folhabv) Sobre o motivo da entrada dessas mulheres no mundo do crime, ela explica que quando elas são investigadas ou presas em relação ao motivo de sua entrada nas facções, geralmente alegam estarem envolvidas sentimentalmente com membros da organização criminosa, ou seja, por dependência financeira ou afetiva e até mesmo por medo. “Por esse motivo, elas acabam se deixando envolver também nesse mundo criminoso, que dificilmente tem volta”, ressalta a delegada. Dentro desses grupos, essas integrantes sempre tem alguma função, na maioria das vezes elas não comandam, e sim ajuda os demais, como informa a delegada. A profissional aponta que o público feminino tem se tornado mais presente nesse mundo. “Vem crescendo bastante a entrada de mulheres nesses últimos anos dentro dessas organizações”, comenta. Apesar do grande índice de participação feminina, Jaira acredita que muitas delas sofrem influências, buscando seguir uma vida criminosa contra a própria vontade. “Muitas delas são jovens de 17 a 30 anos e acredito que sim, na maioria das vezes entram por influência do companheiro ou de amigos”, especifica. Depoimento – A garçonete Claudia Cristina, de 23 anos, residia em Roraima e se mudou para o sudeste do país em 2019 quando decidiu mudar sua trajetória de vida. Ela relembrou seu passado e detalhou parte da sua vida de quando estava envolvida em um grupo criminoso. “Tudo começou quando eu tinha 17 anos e conheci meu ex-companheiro na escola do meu bairro”, conta a garçonete. Claudia relembra que após 3 meses juntos, ele decidiu chama-la para ajuda-lo a vender drogas na região em que moravam e para outros fornecedores, e que após isso, começou a se viciar no dinheiro vindo de maneira fácil. Ela ainda confessa que desde que foi morar com o namorado, passou a se sentir mais confiante e mimada, pois os dois ganhavam dinheiro e respeito com as vendas. “Meu padrão de vida mudou totalmente, mas eu não tinha segurança de mim mesma e sentia medo de tudo”, fala. Logo após sofrer um aborto espontâneo, ela decidiu largar a vida criminosa por temer ser morta ou presa, pois seu ex-companheiro tinha arrumado inimigos. “Meus pais não me perdoaram na época, então recorri a meu avô paterno que decidiu me ajudar a sair do estado. Terminei meu relacionamento por meio de uma carta deixada em casa quando ele não estava, 2 meses depois descobri que ele havia sido internado em estado grave por uma tentativa de assassinato”, relembrou. Claudia conta que um advogado a aconselhou que não existia provas contra ela, então ela se sentiu confiante em mudar de estado para tentar ter uma vida honesta. “Hoje estou solteira, faço alguns cursos profissionalizantes, mas a cicatriz continua na minha memória, se não fosse pelo meu filho que não chegou a nascer, acho que não teria tido forças para sair daquela criminalidade”, finaliza. Ela frisou que entrou com a esperança de uma vida financeira estável e por companheirismo ao parceiro. “Hoje me arrependo, fui ingênua, mas tenho que agradecer que tudo para mim não acabou em morte”, esclarece.