top of page

A livraria itinerante de José Benites

Pedro Barbosa e Shigeaki Alves - Este é Miguel Otero Silva, que foi um grande jornalista venezuelano, um dos mais reconhecidos da história do país. Temos várias obras dele por aqui. Eu já li alguns de seus trabalhos. Ele era bastante crítico, foi jornalista e político, e fazia análises aprofundadas sobre a história venezuelana. Eu te recomendaria um trabalho dele. - conta o vendedor de livros José Benites, de 32 anos.  Ele continua pegando mais livros, mostrando os diferentes conteúdos que cada um proporciona. O vendedor parece animado em falar de cada um deles, gesticulando e pegando-os um por um, até que haja uma pilha deles na sua mão - Este aqui foi impresso na Espanha, é de aulas de teatros e técnicas de comunicação para cinema e televisão -  José é um imigrante venezuelano, mora em Boa Vista há dois anos, e trabalha com venda de livros dentro da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em uma espécie de livraria itinerante, que atualmente está alocada no Bloco 1 da instituição. Diferente de outras livrarias, a de José vende livros de diversos países latino-americanos e Espanha, muitas vezes raros ou de edições limitadas. O vendedor explica que é formado em Literatura no seu país, mora em Roraima com sua esposa, e viu nos livros a oportunidade de melhorar de vida.   Vínhamos muito para cá ver conferências, e com isso acabei me familiarizando com alguns professores, e acabava dando livros de presente para eles. Como as condições ficaram difíceis na Venezuela, e estava sem emprego, vim para cá. Eu não tinha como me sustentar aqui, então surgiu a ideia de vender livros da Venezuela. De postura ereta, com os braços para trás de suas costas, o vendedor conta que este não é um trabalho que ele faz sozinho. Ele tem a ajuda do professor universitário e pesquisador Juan Garcia, que dá aula em diversas comarcas da Universidad Pedagogica Libertadora, em unidades espalhadas pela Venezuela.  Toda vez que venho para cá, venho com livros novos que consigo em diversas partes da Venezuela. Em Caracas e Valência, por exemplo, existem muitas feirinhas, na rua mesmo, de vendas de livros velhos, novos, usados, não importa… Também existem aqueles que doam para nós. Juan explica que os livros que param nas vendas de rua vêm de vários países, com os mais notórios sendo México, Cuba e Espanha. No meio de tantos produtos em espanhol, é possível encontrar até mesmo livros em português, além de algumas revistas de história brasileiras. O professor tem 67 anos, e dá aula há 40. Ele olha com cuidado para cada livro, para ter certeza que todos estão em bom estado para a venda. Ele vê o pequeno negócio com entusiasmo, e ajuda José nas vendas quando está por perto. Assim como Juan, José acredita que livros devem ser passados adiante após serem lidos. Eu venho para cá de vez em quando, pois sou professor na Venezuela. Geralmente, com grupos de pesquisa ou turmas em expedições. Sempre que posso vir para cá, entrego-os ao José. O vendedor continua a organizar e revirar livros de seu estoque. Enquanto faz isso, ele fala que já não tem mais livros que possam ser chamados de seus, e, no fim das contas, não vê mais sentido em ter tal tipo de posse. Eu e o professor não temos apego material à eles, pois acreditamos que depois que você termina de ler, o conhecimento já está contigo, e então só resta passá-los adiante. - contou José, enquanto organizava os livros literários, colocando Fausto de volta ao local de onde havia sido retirado por um cliente curioso.

A livraria itinerante de José Benites
bottom of page