Produção experimental pretende revelar os segredos do debate democrático em meio à polarização política.
Por Ana Paula Lopes, Ingryd Silva e Cleber Portugal *.
Ser de esquerda é muito mais do que uma preferência política, é um desejo de mudar o mundo. No sistema ideal, o Estado é o guardião que molda cada aspecto da vida coletiva, desde a construção familiar até a estrutura das grandes corporações, da economia aos direitos sociais. Sob a justificativa de uma sociedade mais igualitária, esse grupo defende um Estado onipresente.
Partindo dessa ótica, a questão é saber quão grande o estado deve ser. Até onde esse controle pode sobrecarregar as liberdades individuais? Será que a igualdade absoluta não compromete a individualidade? Para responder essas questões, precisamos explicar o que é a esquerda.
O Estado forte e a busca pela justiça social
O eixo central da ideologia de esquerda é a defesa de um Estado mais robusto, capaz de interpor em todas as áreas da vida social, econômica e política. Segundo esta perspectiva, o Governo é o principal regulador no âmbito social e individual, desde a maternidade até à aposentadoria. O Estado, argumenta o cientista político Michael Walzer, como grande medidor e não pode ter limites para intervir nos diferentes aspectos da vida social.
Contudo, a presença estatal não é uma simples questão de controle, mas promotor da justiça social. A filosofia de esquerda acredita que a presença do governo como agente do bem-estar social é crucial para combater as desigualdades inerentes a sistemas pautados na meritocracia. O governo, nesse sentido, é responsável por coibir os monopólios e a exploração, protegendo os mais vulneráveis nas lutas de classes.
A Luta coletiva: da justiça à revolução
O alicerce do pensamento desse espectro é a priorização do coletivo sobre o individual, em contraponto com o individualismo defendido pela direita. O seu objetivo primordial é o apoio e garantia de grupos sociais que foram historicamente marginalizados e, consequentemente, requerem reparação social. Assim sendo, a esquerda compreende que a justiça social só pode ser atingida com o Estado ativo na defesa dos grupos minoritários e na redistribuição de capital.
O defensor de destaque da luta de classes, Karl Marx, foi o primeiro a questionar a verdade objetiva. De acordo com ele, nada é definido como “certo” ou “errado”, tudo depende das mãos de quem detém o poder.
Nesse sentido, a luta de classes não é apenas uma batalha, é uma luta pela desconstrução das estruturas sociais. A partir dessa lógica, para essa ideologia, a verdade se torna fluída, relativa aos interesses da emancipação das massas por meio da revolução.
Nesse contexto, segundo o historiador doutor Jaci Vieira, professor da UFRR, os movimentos sociais tornaram-se a marca da esquerda na luta por igualdade. De acordo com o historiador, em 1917 no Brasil, a esquerda movimentou o que ele chama de “uma das maiores greves que esse país já conheceu”.
Ao refletir sobre esse espectro e suas demandas por igualdade social, encontramos um paralelo significativo com a obra de Sidney Tarrow O poder em movimento. Para o autor, os movimentos sociais surgem em resposta a oportunidades políticas e atuam como agentes de transformação, mobilizando grupos para lutar por mudanças estruturais. Assim como Tarrow, para essa ideologia, a coletividade é a força motriz de suas reivindicações por reformas, a prioridade sempre será o bem comum e as lutas sociais em detrimento das particularidades individuais.
Então, o que é ser de esquerda?
“Ser de esquerda é pautar a sua vida política e a luta pela igualdade social e ter uma preocupação com as pessoas mais pobres. É lutar por um Estado que não exclua. Um projeto baseado na coletividade, isso é ser de esquerda, uma sociedade socialista”, define o historiador Vieira.
O doutor Américo Lyra, professor e pesquisador da história das relações internacionais, se aprofunda nas diferentes vertentes do espectro, e explica as principais linhas de pensamento dentro deste espectro, confira no áudio a seguir:
Os desafios do sistema progressista
A manutenção de um Estado grande e centralizador também carrega seus desafios. Em vários exemplos na história, regimes alinhados à esquerda são apontados por cercear as liberdades individuais em nome da coletividade.
O poder de controle governamental, em alguns casos, pode limitar a liberdade a autonomia individual. Mesmo diante desse cenário, para estes, as intervenções estatais são necessárias para garantia de igualdade no sistema que, se desregulado, beneficia apenas os mais privilegiados.
Enquanto a direita atribui ao passado a qualidade de estabelecer o presente estável, a esquerda, por sua vez, reivindica no presente mudanças drásticas para a possibilidade de um futuro favorável e justo. Por esse prisma, o símbolo da esquerda é o futuro, enquanto o da direita é o passado.
Para os defensores da esquerda, o progresso da sociedade depende de um Estado forte e atuante que promova o florescimento social por meio da solidariedade e da justiça social, e para o autor, a chave está no poder da ação coletiva, no movimento. portanto, tanto para Tarrow quanto a filosofia esquerdista, o movimento em direção à tão almejada igualdade depende da capacidade das massas de se mobilizarem e por um Estado que atue em prol do bem comum.
* Grupo 1. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina
JOR53 – Jornalismo Especializado I.
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