Plataformas digitais transformam causas sociais em movimentos globais, ampliando vozes e pressionando governos e instituições.
Por Arthur Chaves*.
Nos últimos anos, as redes sociais se consolidaram como uma plataforma fundamental para a mobilização política e o ativismo em diversas partes do mundo. Twitter, Facebook, Instagram e YouTube são utilizados para promover causas sociais, organizar protestos, divulgar denúncias e, em alguns casos, transformar a sociedade a partir de reivindicações de direitos.
Esse novo cenário de mobilização digital, também chamado de ciberativismo, permite que causas e movimentos ganhem visibilidade global. Um dos exemplos mais notórios é a Primavera Árabe, que se iniciou em 2010.
O movimento derrubou ditaduras em países como Tunísia e Egito e contou com o apoio das redes sociais para divulgar as más condições de vida da população e práticas repressoras de governos autoritários. Censurados pela mídia oficial, cidadãos recorreram ao Twitter, Facebook e YouTube para expor sua realidade ao mundo, demonstrando o impacto transformador que as redes podem ter.
Ciberativismo
O ciberativismo, que abrange toda ação online voltada para a difusão de ideias e causas, surge como uma extensão do ativismo tradicional. Inicialmente, movimentos e organizações da sociedade civil começaram a usar a internet como meio de ampliar o alcance de suas ações realizadas no mundo offline. No entanto, as redes sociais aceleraram esse processo, permitindo que indivíduos e pequenos grupos ganhem visibilidade, mesmo que não possuam uma estrutura formal.
No Brasil, os últimos anos trouxeram um crescimento expressivo do uso de redes sociais, especialmente para o ativismo. O potencial desse formato digital foi reforçado por uma pesquisa de 2017, realizada pela F/Nazca Saatchi & Saatchi e o Instituto Datafolha. Conforme o estudo, 60% dos brasileiros acreditam que as redes sociais influenciam mudanças de opinião sobre questões sociais.
Além disso, cerca de 9,5 milhões de brasileiros já participaram de movimentos políticos ou sociais por meio dessas plataformas. Esse número certamente aumentou desde então, especialmente com a explosão de usuários do Instagram e de outras redes.
O ativismo nas redes sociais dá voz a cidadãos comuns, permitindo que suas histórias, demandas e lutas ganhem a atenção de um público vasto. Uma publicação pode ser curtida, compartilhada, comentada e repostada, ampliando seu alcance de maneira exponencial. Essa característica faz com que as redes sejam vistas como um importante canal de mudança social, capaz de influenciar a opinião pública, mobilizar ações coletivas e pressionar instituições governamentais e comerciais.
Um exemplo desse impacto ocorreu no Brasil, em 2014, quando o enfermeiro Valdir Francisco Vaz iniciou uma campanha online para obter autorização para o uso de um medicamento à base de canabidiol, derivado da maconha, para tratar seu filho Lorenzo, que sofria de epilepsia.
A campanha, amplamente divulgada nas redes sociais, resultou em uma petição com mais de 77 mil assinaturas, entregue à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em resposta, a agência permitiu a importação do medicamento, demonstrando a eficácia do ativismo digital.
A Transformação do Ativismo no Mundo Digital
O fenômeno do ciberativismo não apenas permitiu que pequenos grupos alcançassem um público maior, mas também desafiou a lógica tradicional de comunicação, antes dominada por meios de comunicação de massa. Com as redes sociais, a informação deixou de ser transmitida de poucos para muitos e passou a ser compartilhada de muitos para muitos, quebrando barreiras e criando novas dinâmicas de poder.
Contudo, essa forma de mobilização também enfrenta críticas. O chamado “ativismo de sofá” foi um termo cunhado para descrever o engajamento superficial, onde os indivíduos limitam sua participação a interações simples, como curtidas e compartilhamentos, sem efetivamente se envolverem em ações concretas no mundo real.
Apesar dessa crítica, a ascensão de campanhas que saem do digital para o offline, como protestos, petições e mudanças legislativas, mostra que as redes sociais podem, sim, ser catalisadoras de transformações tangíveis.
* Grupo 7. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina
JOR53 – Jornalismo Especializado I.
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