Por: JB Fernandes
Boa Vista, 04 de outubro de 2019.
Existem hoje, catalogados no mundo inteiro, cerca de 200 tipos diferentes de câncer. O câncer é um problema de saúde pública mundial. Estima-se que, até o ano de 2030, existirão 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17 milhões de mortes por câncer e cerca de 75 milhões de pessoas vivas, com câncer. O maior efeito desse aumento vai incidir em países de baixa e média rendas. Os dados são da Organização Mundial da Saúde – OMS (mais em: https://www.who.int/eportuguese/publications/pt/).
O câncer de Próstata, é um dos canceres mais comuns que afeta diretamente aos homens e, infelizmente, pouco tratados, ora pela falta de procura de muitos, com relação ao diagnóstico e tratamento, ora pela precariedade dos sistemas de saúde pública, ora pelo simples preconceito das pessoas atingidas, ainda, em dias de hoje, em se expor a um profissional, seja para um simples exame de sangue, seja para um exame mais detalhado de toque. E, justamente por esta última razão, alguns tipos de câncer de próstata podem crescer e se disseminar rapidamente. Mas, a maioria se desenvolve lentamente e, não raro são os casos em que a procura pelo tratamento só é feita, já em último estágio. De fato, estudos de autópsia mostram que muitos homens mais velhos, e até mesmo alguns homens mais jovens, que morreram de outras doenças também tiveram câncer de próstata sem que nenhum sinal ou sintoma fosse apresentado. Em muitos casos, nem eles nem seus médicos sabiam da existência da doença. Seria apenas o preconceito latente na maioria dos homens ou seria também o descaso das autoridades do setor? O Sistema de Saúde Pública funciona? É fácil procurar atendimento médico?
Para responder algumas destas questões, eu resolvi, como homem e paciente, procurar realizar este exame tão crucial para o bem-estar e a saúde do homem, em redes públicas aqui de nossa Capital roraimense, Boa Vista.
Eis os resultados:
● Boa Vista, 04 de outubro de 2019, 5h45min. da manhã. Chego ao Hospital Geral de Roraima (HGR), e hoje, por incrível que pareça, tem pouco movimento na recepção do mesmo. Me dirijo ao balcão de atendimento e com o número do meu cartão do SUS, sou fichado e encaminhado ao
setor de triagem. Porém, lá, naquela sala onde se distribuem as pulseirinhas de acesso e que também tem a função de distinguir qual a nossa prioridade, descubro que não posso ser atendido diretamente no hospital, necessitando primeiro passar por um posto de saúde, para só então receber uma Guia de Encaminhamento, fornecida por um clínico geral, para retornar ao hospital;
● 7h10min. Estou no bairro Cidade Satélite, onde moro e para onde fui orientado a seguir para solicitar a tal Guia de Encaminhamento. Neste posto há uma movimentação enorme de pessoas para serem atendidas, em sua maioria, imigrantes venezuelanos, fato constatado pelos dialetos que escutamos e confirmado pela atendente, que sem muitos rodeios me disse que todas as fichas de atendimento (senhas), já se haviam esgotados para este dia. Sou novamente orientado a procurar outro posto;
● 8h17min. Resolvi procurar o posto de atendimento da Universidade Federal, pois sempre me
dou bem em alguns casos nesta Unidade de Saúde. Impreterivelmente hoje, a atendente me comunica que não haverá médicos clínicos para atendimento à população, me prometendo uma possível data para os primeiros meses de 2020, pois todos os médicos encontram-se de férias. Desta vez sou aconselhado a me dirigir ao Hospital Coronel Mota (HCM), onde possivelmente (nas palavras da moça da UFRR), eu obteria mais sucesso. Fui;
● 8h43min. Estou dentro da recepção super lotada do HCM. Novamente prevalece uma sensação de que estamos no país vizinho, a Venezuela. Poucos são os brasileiros realmente
identificados como tais. Pego uma fila que parece não se mexer e, portanto, não parece terminar nunca. Após cerca de uma hora depois, sou finalmente fichado (desta vez nesta unidade de saúde), e encaminhado para a triagem. Cerca de mais uma hora e meu nome é chamado para o filtro de atendimento. Quando questionado sobre o meu encaminhamento, relato para a moça toda a minha história desde a madrugada, e que fora parar ali, por indicação da moça da unidade da UFRR. Para a minha surpresa,
descubro que sem o referido encaminhamento documentado, eu não poderei ser atendido. E mais, também acrescento ao meu aprendizado, que o encaminhamento da Universidade Federal não tem qualquer valor no Coronel Mota, tem que ser um documento de uma unidade de saúde da prefeitura ou do estado. A hierarquia dos doentes. E, mais uma vez me destinam para um posto de saúde mais próximo, no bairro 31 de março;
● 11h10min. Eis que me encontro no posto agora a pouco mencionado. Me dirijo a recepção e solicito o atendimento com um clínico para que eu possa ter o tão sonhado e famigerado Guia de Encaminhamento. Mas não fio desta vez. Para a minha surpresa, também descobri ali, naquele posto, que todas as unidades de saúde estão dedicando o dia ao atendimento preferencial as mulheres. Uma espécie de dia rosa, em referência ao Outubro Rosa. E que bom que alguém me passou esta informação, pois de outra forma eu iria dedicar mais tempo (e combustível), na minha busca incessante ao Guia de Encaminhamento.
Conclusões:
Por fim, a experiencia que tiro desta peregrinação, são várias e, muitas delas dadas ao descaso da desinformação ou, falta de um pouco de boa vontade dos chamados profissionais do setor. Vejamos:
● No primeiro caso, do HGR, houve a inexperiência de minha parte em não conhecer os tramites legais dos procedimentos. Mas, se já naquela unidade me houvessem comunicado que o dia hoje seria um dia especificamente diferenciado, eu nem teria continuado minha saga. Talvez daí, a recepção quase vazia;
● No segundo caso, permanece a minha inexperiência com relação aos horários de atendimento X número de senhas. Ouve-se naquela unidade que as prioridades são os imigrantes. Então, quando a população local será a da vez?
● No caso da Unidade da Universidade Federal, fica apenas uma pergunta: todos os médicos resolveram sair de férias juntos? Férias coletivas então;
● No HCM prevalece uma espécie de “briga” entre as governanças locais. Quem é federal não pode ser atendido pelo Município ou pelo Esatdo e vice-versa;
● E na unidade de saúde menos próxima de minha casa, no bairro 31 de março (moro no Cidade Satélite), descubro um pessoal com mais paciência e mais informação. Foi lá que obtive a promessa de retornar na semana seguinte, para marcar um horário com um profissional Clínico Geral e dar prosseguimento a busca de realizar meus exames.
Então, respondendo as questões do início desta matéria, se, seria apenas o preconceito latente na maioria dos homens ou seria também o descaso das autoridades do setor? O Sistema de Saúde Pública funciona? É fácil procurar atendimento médico? Creio que todas as opções são válidas!
Bom, dinheiro existe para o setor, pressupõe-se.
Vale ressaltar que Boa Vista é uma cidade pequena, Capital com ares de interior, com vias largas e de fácil acesso e, eu tenho transporte próprio, o que agiliza e muito, na execução de tarefas afins. E, para quem depende quase sempre de transportes públicos e muitas vezes tem seu dinheirinho contado, conseguiria NÃO realizar seu intento, em menos de meio dia, como eu não consegui? São perguntas para outras matérias.
Para: Rede Amazoom.
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