Por Ana Lucia Monte, Fabrício Araújo, Rafaela André e Sandeivyde Alves.
De um lado os direitos da comunidade LGBTQ+ e do outro a Marcha para Jesus. Ainda que sem um contexto, as duas coisas em uma única frase já causam estranhamento, isso porque é impossível não pensar nos constantes confrontos ideológicos da comunidade cristã e da população LGBTQ+ no Brasil.
Mesmo com toda esta tensão que se cria só em juntar os dois assuntos, imagine o que aconteceria se o homem que se proclama, como a pessoa que trouxe a Marcha para Jesus para Roraima, também tivesse levantado a proteção da comunidade LGBTQ+ em pelo menos dois pontos de seu plano de governo?
Foi exatamente o que aconteceu com o candidato do PDT, Telmário Mota. Ele diz que foi o responsável pela primeira Marcha para Jesus em Roraima e em um pronunciamento durante atividade legislativa, em 30 de setembro de 2015, chegou a falar a seguinte frase:
“Eu vejo aí a Petrobras, Caixa Econômica, Banco do Brasil, que patrocinam aí a caminhada, não sei o quê, movimento gay, mas para a Marcha para Jesus, que não tem cor partidária, que não tem placa de igrejas - ali pode estar o Candomblé, pode estar o espírita, pode estar o católico, pode estar o evangélico, e estão, naquela caminhada -, o Banco do Brasil negou. Eu fiz o ofício, e negou essa ajuda. Então eu lamento isso, com muita profundidade, porque me parece uma demagogia".
Em seu plano de governo das eleições de 2018, intitulado “14 compromissos”, ele se compromete com a comunidade LGBTQ+ nos compromissos dois e cinco, que tratam de segurança pública e seguridade social respectivamente.
No compromisso dois do plano de governo, Telmario Mota afirma que vai combater com inteligência, repressão e prevenção o tráfico de pessoas; as violências e abusos contra crianças e adolescentes; as práticas delituosas contra idosos desde agressões físicas a assédios morais e financeiros; as violências contra a população negra, indígena, estrangeira e LGBT de Roraima. E no compromisso cinco diz que irá consolidar e ampliar a rede de proteção social, envolvendo estado e municípios, que seja formada por instituições que atuam com crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, população lgbt e população de rua.
Seria ele um político não polarizado ou com idéias políticas não lineares? Segundo o cientista político, Roberto Ramos, se trata de um político profissional.
“Ele é um político profissional, que busca maximizar suas oportunidades eleitorais sem estar vinculado à uma matriz ideológica definida. Por isso, ele tenta agradar com políticas os eleitores onde eles estiverem”, afirmou o cientista político.
Questionamos a Roberto Ramos se o caso de tentativa de maximização de eleitorado poderia ser uma estratégia frágil no contexto de que são dois grupos grandes e com considerável organização social.
“Não necessariamente, as razões são diversas para escolha de um candidato. E também não se deve esquecer que a representação política refere-se ao todo e não apenas a um seguimento do eleitorado. Ele não foi eleito como candidato dos LGBTs ou como candidato dos evangélicos, ele foi eleito como representante do povo de Roraima”, esclareceu.
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