
Amanhã, 12/02, o Centro de Ciências Humanas (CCH/UFRR) promoverá o I Seminário “A voz da resistência na Amazônia”. O início das atividades será as 8:30h, no auditório do CCH. Os diálogos a serem estabelecidos girarão em torno da proteção da Amazônia e o papel dos ativistas de direitos, na maior floresta e área com diversidade de povos originários. Nessa primeira edição a Irmã Dorothy Stang será celebrada pela sua história e luta em defesa da Amazônia, dos direitos humanos e da Reforma Agrária.
A Amazônia, a exemplo de outras formatações coloniais, teve um processo violento em sua ocupação, relegando aos povos originários e aos escravos muita dor e sofrimento. Essa violência sempre se estendeu as vozes, locais ou não, que se levantaram contra os abusos e crimes cometidos com ou sem ajuda do Estado colonizador. Nos dias atuais, esse processo de ocupação da região continua a ter como uma de suas principais marcas a violência.

Para o professor Dr. Benedito Barbosa é importante esses temas sobre proteção da Amazônia e proteção aos ativistas de direitos humanos serem debatidos entre a academia e a sociedade roraimense. “Os ativistas de direitos humanos, assim como a Irmã Dorothy Stang, enfrentam grandes riscos e desafios para defender valores essenciais à vida. Dialogar sobre a importância da atuação dessas pessoas no combate à violência, exploração e impunidade é fundamental em nossa sociedade”, disse Barbosa. Roraima enfrenta especialmente na retomada do processo de regularização fundiária vários conflitos que se estabelecem nas localidades. A rede Amazoom retrata muitos deles, entre os quais destacamos as reportagens de um conflito em Caracaraí e outro em Iracema.
Roraima integra o contexto amazônico, desde a chagada do atual grupo político ao governo do estado e a retomada dos processos de regularização fundiária, ampliamos os conflitos especialmente por terra, mas que possuem outras formas de ocupação dos territórios, a exemplo da exploração turística no baixo rio Branco. Mas, a soja, o gado e agora a produção de insumos para biomassa promovem os principais conflitos locais que giram sobre a propriedade da terra. Essa uma luta essencial ao "desenvolvimento" do capitalismo tardio brasileiro e para a aristocracia agrária que se forja em Roraima, sob o julgo da expulsão de pessoas de terras ocupadas há décadas.
Recentemente, vimos com a chegada de um governo anti-indígena, em 2019, ao poder central do Brasil, o crescimento dos ataques sobre as comunidades indígenas de nosso país. Especialmente, vivenciamos a deterioração humana, social e cultural imposta pelo garimpo ilegal de ouro e cassiterita na TI Yanomami que levou a morte de centenas de indígenas, especialmente crianças.
A recente aprovação do zoneamento econômico e ecológico, em Roraima, autorizou o desmatamento de 16 mil km² de floresta, por meio da redução das áreas das reservas legais existentes nas propriedades privadas, as quais reduziram de 80% para 50%. Essa mudança contida no código florestal torna-se possível, na Amazônia, nos Estados que possuam mais de 65% de seus territórios preservados com terras indígenas e outras áreas de proteção ambiental.
Enfim, o modelo de “desenvolvimento” econômico pensado e organizado para nossa região reproduz a mesma lógica anterior, centra-se na posse privada de grandes extensões de terra, introdução de uma cultura agrícola ou animal, extração mineral e desmatamento. Esses são os fatores centrais que definem a necessidade estratégica de ampliar o diálogo sobre a viabilidade de novos modelos de desenvolvimento humano. Para Brabosa, “Não é uma questão fácil proteger as pessoas e a Amazônia, vários são os desafios, mas nós já demonstramos muitas viabilidades por meio de iniciativas locais. Mas, precisamos de políticas públicas eficientes, em modelo agrícola agroflorestal, uma economia sustentável ambientalmente e o uso das ferramentas tecnológicas”.
Irmã Dorothy Stang
A ativista de direitos humanos assassinada em 12/02/2005, aos 73 anos, na cidade de Anapu/PA radicou-se em uma das regiões de maior conflito agrário no país, em virtude da grilagem de terras públicas, garimpo, extração mineral, terras indígenas e vasta cobertura vegetal. “Sua luta em defesa dos direitos humanos e preservação da Amazônia foram fundamentais no combate a violência e a exploração de pessoas e do ambiente de forma descontrolada e criminosa, transformando-a em um símbolo de resistência, coragem e compromisso com a justiça social. Celebrá-la neste evento é manter viva sua memória e seus ideais”, disse Barbosa.
Organização do Evento
Além, do Dr. Benedito Barbosa, outros 2 doutores em história participam da comissão organizadora, professor Jaci Veira (UFRR) e a professora Maria José (UERR). O evento é apoiado pela Comissão Pastoral da Terra, Movimento dos Sem Terra, Diocese de Roraima, UFRR, SESDUF, e o curso de história da UERR.
Programação

O seminário contará com a realização de 2 mesas redondas, a primeira debaterá os desafios e avanços na defesa dos direitos humanos da Amazônia, com as presenças do professor Dr. Antônio Carlos e de um representante da CPT/RR. A segunda mesa trará como tema o atual cenário dos conflitos agrários na Amazônia, tendo como palestrantes a Dra. Adriane Silva e um representante do MST/RR. Durante o dia será exibido o documentário “Mataram Irmã Dorothy” e ocorrerá lançamentos de livros. Veja a programação ao lado.
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