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Foto do escritorFabio Almeida

Roda de conversa debaterá impacto da hidrelétrica do Bem Querer na vida dos roraimenses

A área de impacto da hidrelétrica pertence a história milenar do povo de Roraima que em 2019 realizou a primeira caminhada ecológica em direção ao Bem Querer.

Foto: Fábio Almeida

A Universidade Federal em parceria com a Frente em Defesa do Rio Branco realizará nesta quinta-feira (24/08/2023) uma roda de conversa, as 18:30h, no auditório Alexandre Borges, localizado no campus Paricarana da UFRR, cujo objetivo central é apresentar os principais impactos da construção da hidrelétrica do Bem Querer na vida dos roraimenses.


O projeto de construção do empreendimento elétrico no médio rio Branco remonta o planejamento do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), idealizado em meados da década de 1970, no governo de Ernesto Geisel. A proposta após 35 anos dormindo nos gabinetes de Brasília retornou a discursão no ano de 2010. A partir do ano de 2018, os estudos ambientais são retomados tendo previsão de conclusão em dezembro de 2023.

Corredeiras do Bem Querer que desaparecerão com a hidrelétrica. Foto Fábio Almeida.

Para Bruno Campos, mestre em recursos naturais e integrante da Frente em Defesa do Rio Branco, o retorno da intenção do governo em construir Bem Querer tem relação direta com a interligação de Roraima com o SIN (sistema interligado nacional), por meio do linhão de Tucuruí. “A diferença nos ciclos hidrológicos existentes entre o hemisfério norte e sul, permitem que no período da seca nos rios abaixo da linha do equador, Bem Querer esteja no ápice de sua produção, possibilitando o fornecimento de energia para Manaus”, afirmou Campos.


A construção da hidrelétrica é recheada de controvérsias que se estabelecem principalmente devido a ausência de transparência nos estudos realizados. O diálogo com a população é insuficiente, não permitindo uma análise aprofundada em torno dos reais efeitos sobre a população. Um exemplo sobre esse assunto consiste na cota do reservatório que se inicia nas corredeiras de Bem Querer. O projeto prever uma cota de 60m em relação ao nível médio dos mares), ocorre que a cota das cheias ordinárias chega a 65 metros. Ou seja, a hidrelétrica pode aumentar a cota das cheias ordinárias e causar grandes enchentes.


Campos afirma que o projeto apresentado é ineficiente ao comparar os dados disponibilizados pela empresa de pesquisa energética (EPE), vinculada ao Ministério das Minas e Energia. A relação é estabelecida relacionando a área alagada pelo empreendimento e sua capacidade de geração de energia. O projeto para o Bem Querer prever um reservatório de cerca de 500km² e uma produção energética máxima de 650MW e mínima de 100MW.

Área de impacto da Hidelétrica. Fonte EPE.
“Comparando com a hidrelétrica de Belo Monte que possui um reservatório de cerca de 530 km² e produz um máximo de 11.000MW e na média 4.000MW. Portanto, os custos ambientais, sociais e econômicos demonstram a ineficiência do projeto. Considerando a produção mínima de energia prevista teríamos uma grande área de alagamento para na maior parte do ano ter uma produção de 1/3 da energia necessária em Roraima que gira em torno de 300MW”, disse Campos.

Para Campos, a única explicação técnica para construção da hidrelétrica de Bem Querer é o fornecimento do excedente de cerca de 350MW para a cidade de Manaus, quando as hidrelétricas que produzem energia para a localidade encontram-se no período de seca. Se considerarmos os demais empreendimentos térmicos autorizados em 2019 para Roraima é possível afirmar que a produção hídrica de energia no rio Branco terá como perspectiva central ampliar a oferta de energia para o complexo industrial de Manaus.


Esse projeto foi pensado para atender Roraima ou para atender Manaus? As respostas serão apresentadas pela Frente em Defesa do rio Branco na roda de conversa de hoje. Tendo como análise central um olhar sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais que serão causados na vida das pessoas. “Os estudos demonstram que áreas produtivas de grãos e alimentos, os pescadores artesanais e o turismo serão áreas muito impactadas pelo empreendimento. Por isso, a Frente em Defesa do rio Branco possui uma posição contra a construção da hidrelétrica, defendendo que a EPE deva priorizar outras fontes de produção energéticas, com prioridade as renováveis”, afirma Campos.


Frente em Defesa do rio Branco


A formulação do movimento social surgiu da necessidade de contrapor o projeto da hidrelétrica e para defender a utilização de outras matrizes energéticas para o modelo de produção em Roraima. Sendo constituída por técnicos, profissionais, movimentos sociais, sindicatos, artistas e intelectuais, possui como proposta central a defesa do rio Branco como um tributário de nossas vidas.

Visão das corredeiras na época da cheia. Foto Fábio Almeida.

No entanto, os processos recentes potencializados em nosso Estado, como o criminoso garimpo no território indígena e o uso extensivo de agrotóxicos levaram a organização a incluir em seus debates os processos de contaminação de nosso principal manancial hídrico, 85% dos rios e igarapés que existem no Estado são seu afluente, possuindo uma grande importância hídrica e ambiental para Roraima.


Pastorais Sociais


Danilo Bezerra é irmão marista e assistente social, representa na composição da Frente em Defesa do rio Branco as pastorais sociais da igreja católica e a rede eclesial pan-amazônica em Roraima, acredita que a Frente consiste em um mutirão em defesa da vida, oportunizando um espaço de comunhão, mobilização, reflexão e articulação na defesa do rio Branco e na luta por matrizes energéticas renováveis.


“Em Roraima o que não falta é sol para que o estado possa investir em uma produção fotovoltaica. Integramos essa defesa na luta pela casa comum, como afirma o Papa Francisco e na promoção da mãe natureza, como diz Frei Betto. Somos um espaço de defesa da vida que pulsa dentro de nós e se estende a nossa casa comum. Nossa 6ª semana social brasileira conclama um mutirão pela vida, tendo como diretrizes a defesa de Terra, Teto e Trabalho e neste momento a defesa de nosso rio Branco”, disse Bezerra.


Levante Popular da Juventude


Elton Carvalho, militante do levante popular da Juventude e integrante da Frente em Defesa do rio Branco acredita que a consolidação da organização potencializa a importância de possibilitar do debate em torno da construção da hidrelétrica do Bem Querer. Para Carvalho, “a Frente possui um papel central para democratizar o debate público em relação ao empreendimento já que as consultas públicas e as informações não circulam na sociedade, especialmente entre os jovens”.


Segundo ele, as comunidades indígenas que serão impactadas não são ouvidas, portanto os direitos dos povos originários estão sendo feridos pela empresa de pesquisa energética por não proporcionar o diálogo necessário com essas comunidades. “Temos o papel de estudar a proposta, ante as informações disponibilizadas, para podermos denunciar essa situação que expõe também os ribeirinhos que sobrevivem da pesca. Aqui podemos com nossa união barrar essa proposta que trará muitos problemas para todos nós”, afirmou Carvalho.


Caminhada Ecológica


No ano de 2019, movimentos sociais e as pastoriais sociais realizaram a primeira caminhada ecológica em defesa da Amazônia e contra a construção da hidrelétrica. O evento reuniu mais de 100 pessoas que percorream a vicinal do Bem Querer que tem sua entrada localizada no KM 125 da BR 174, no município de Caracaraí.

Caminhada Ecológica 2019. Foto Fábio Almeida.

Em 2023 será realizada a II edição da caminhada ecológica. A sociedade roraimense deve se programar para no dia 07/10/2023 caminhar em defesa de nosso patrimônio ambiental, de nossas vidas e pelo arquivamento da proposta da hidrelétrica pelo governo federal. Veja o vídeo da primeira caminhada ecológica. Apenas a unidade do nosso povo pode fazer os investimentos da ordem de R$ 10 bilhões, para construção da hidrelétrica do Bem Querer, possam ser direcionado ao desenvolvimento de outras matrizes de geração de energia, a exemplo da energia fotovoltaica.

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