Ana Carolini Gama e Felipe Lopes
Partir da Venezuela jamais foi uma opção para centenas de venezuelanos. Miséria, falta de remédios, repressão política e a obrigação de amparar os seus familiares mais indefesos os forçaram a partir de suas propriedades e deixar seus planos para o futuro em stand by.
O percurso da Venezuela até o Brasil é árduo. E depender de refúgios temporários ou de pessoas solidárias, para ter a chance de uma morada na cidade e ir atrás de oportunidades é mais duro ainda. Além disso, é difícil para estas pessoas conseguirem momentos para descontrair e parar de lembrar na condição em que estão.
Imagine só: se nós que temos a comodidade de estar em nosso país, em nossa cidade, nossa cultura e costumes, já passamos por adversidades no cotidiano. Como será pra quem foi obrigado a deixar tudo pra trás por questões políticas e socioeconômicas? Essa gente, é a gente. Em todo lugar e a qualquer hora do dia, entre diferentes situações que às vezes ninguém pensa. É humano. E que recorda com melancolia da música que tocava no barzinho na esquina de sua casa, ou da brisa do mar ou da natureza que dava de ver pela sua janela. Pessoas que não têm melhores opções a não ser seguir em frente.
E então te apresentamos a história da comunicóloga Adriana Duarte, de 35 anos, que passou por tudo isso em 2016 e enfrentou o desafio de migrar para ação e ir em busca de melhores condições de vida e trabalho em solo macuxi - com muitos percalços igual a todos que embarcam na travessia da fronteira; com fome, sede, noites sem dormir, arriscando a vida, e com o medo e angústia de deixar seu país pra trás e encarar uma nova realidade.
Mas claro, a batalha não para nos obstáculos do caminho; os migrantes encaram o perigo de serem deportados a seu país de nascença, e assim, retornar à escassez e à rejeição. Ou ainda, o que geralmente ocorre, encontrar refúgio no novo país e ser alvo de hostilidades da população local.
Antes de deixar a Venezuela, a jovem Adriana garantiu aos pais que seguiria trabalhando por um futuro mais confortável para a família. “Tenho sonhos e metas que quero realizar”, afirma ela. “Apesar das dificuldades que encarei, eu não desisti”.
Ela aponta ainda que, devido a crise, e com a chegada de agências e empresas internacionais para auxiliar os migrantes em refúgio, muitas necessitavam de pessoas que falassem a língua espanhola.
"Costumo dividir a fase antes da chegada da ONU e depois. Não só pelo trabalho humanitário de nos acolher amorosamente e ter mostrar uma opção por onde recomeçar, mas também pelas oportunidades no mercado de trabalho que nos possibilitam. Logo, achei que era o momento propício para me inserir na área de comunicação, e me aperfeiçoar. Atualmente estou como ‘freelancer’ como dizem, crescendo profissionalmente e conhecendo novas tecnologias”, disse.
Questionada sobre voltar para Venezuela, Adriana relata que a diferenças na administração de políticas públicas entre os dois países é enorme, como o alto custo de vida, por exemplo. “Das inúmeras dificuldades de permanecer aqui, no início, eu senti a diferença no fornecimento de serviços, como energia e medicamentos. É difícil, dá vontade de desistir e voltar. Mas depois você vai se adaptando e enxergando que há possibilidades e esperança… na Venezuela não tem”, contou.
A comunicóloga ainda agradece e reconhece a todos que lhe ajudaram...
“Digo que tenho um pouco de sorte. Por ter amigos venezuelanos que vieram antes de mim e me acolheram quando cheguei, e sempre me incentivaram a continuar em busca da minha estabilidade aqui. Mas gosto de falar que essa é uma responsabilidade de todos os venezuelanos que estão aqui, uma mão apoia a outra.”
O mais legal de ouvir seu relato e que deixa a gente com o sentimento de ‘ufa! temos esperança!’ é a alegria e o entusiasmo que ela conta de ter seu trabalho reconhecido pelos clientes e sua crença inabalável de que o sol voltará a surgir no outro dia.
“Trabalhei em televisão pública por 8 anos, tenho um prêmio nacional de jornalismo, videoclipes reconhecidos, muito material de fotografia e de vídeo. Um currículo estável. Com isso, meu amigo que também trabalha com audiovisual sempre me chamou pra uma parceria, com esse ímpeto, essa vontade de ‘vamos lá, trabalha com a gente... podemos fazer algo legal’ e assim me encorajei e firmamos a parceria”, explicou.
Adriana dirigiu um clipe musical, mostrando sua versatilidade do ramo áudio visual
Mesmo com inúmeros trabalhos no mercado e um currículo super estruturado, Adriana expressa sua maior felicidade: a de ser reconhecida profissionalmente.
“Pelos trabalhos que fiz aqui, com pouco tempo na cidade, eu já ouvia “Olha... muito legal o seu material, é bonito e muito profissional.” E isso eu já não tinha em Caracas. Lá todos lutam pelo único trabalho que tem, e esse reconhecimento dá valor aos anos de estúdio, trabalho e experimentação. Escutar isso de brasileiros e de venezuelanos está sendo a relação mais linda que tenho aqui. Sou reconhecida pelo meu trabalho!”
Confira abaixo mais trabalhos da comunicóloga;
Adriana trabalhou com direção de fotografia em um documentário sobre as belezas da região do Tepequém
Adriana dirigiu Série de Crônicas Comunitárias para MPPCOMUNASMS
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