Lideranças indígenas reuniram-se na UFRR para celebrar a demarcação da TI Yanomami, denunciar as ameaças e reafirmar o discurso de luta em defesa dos povos indígenas de Roraima.
Por Yohanna Menezes e Emily Tenente.
Davi Kopenawa, xamã e líder político do povo Yanomami.
A segunda noite das atividades do seminário “O Futuro é Indígena: 30 anos da Terra Yanomami", aconteceu nesta sexta-feira (12) e reuniu lideranças indígenas e indigenistas para celebrar a demarcação da TI Yanomami e reafirmar o discurso de luta pelos povos indígenas que vivem no estado de Roraima.
A noite contou com a presença de Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY); e Edinho Batista Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Em entrevista, Davi Kopenawa, relembrou a dificuldade enfrentada pelo povo Yanomami durante a homologação e demarcação: “A demarcação da TI Yanomami significa nossa casa, nossa floresta, onde nós nascemos e vivemos. Queriam dar um pedacinho para cada comunidade”.
“Eu não chamei o homem branco para demarcar minha casa pequenininha. Isso seria como chiqueiro de boi. Essa demarcação, eles devolveram a terra para os Yanomamis e Ye'kuana. Para nós poder continuar a viver e morar. Foi muito difícil! O governo não queria demarcar. Mas, foi com muita luta que juntou os guerreiros, os povos indígenas do Brasil e também o povo da cidade, que ajudaram, para o governo devolver o que sobrou da Terra Yanomami. Isso é muito importante para nosso futuro”, afirmou David.
“Eu não chamei o homem branco para demarcar minha casa pequenininha. Isso seria como chiqueiro de boi. Essa demarcação, eles devolveram a terra para os Yanomamis e Ye'kuana para nós poder continuar viver e morar” - Davi Kopenawa.
Durante o evento, Davi também agradeceu o apoio dos não indígenas que tem ajudado a manter a história do povo Yanomami viva e reconhecendo suas lutas.
Já Edinho Batista, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR) fez um discurso inflamado e lamentou todas as dificuldades que os povos indígenas enfrentam no estado de Roraima. Mas frisou também que a data era uma oportunidade para se orgulhar pela união e resistência dos povos indígenas que estão cada vez mais organizados.
Edinho Batista, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
“Quem um dia pensou que exterminaria os povos indígenas, se enganou! Nós reconhecemos publicamente que fomos reduzidos, que fomos massacrados, mas nunca vencidos. E hoje nós temos uma raiz forte, plantada na nossa própria casa, no nosso próprio território. Hoje os povos indígenas estão preparados para qualquer desafio que vier querer comprometer a vida dos povos indígenas. Eu tenho falado nisso sempre e vou morrer honrando essa bandeira dos povos indígenas. Por que para nós falar de território é falar de vida! É falar de qualidade de vida, que os povos indígenas têm que ter”.
“Para nós falar de território é falar de vida! É falar de qualidade de vida, que os povos indígenas têm que ter - Edinho Batista Macuxi.
O Coordenador do CIR também afirmou que eles não apenas defendem a terra, mas que são a terra e a floresta. E, por conta disso, pagam um preço alto por defendê-las da destruição do homem branco - que tem invadido as Terras Indígenas há mais de 500 anos. Edinho lembrou ainda que é dever da sociedade levantar a bandeira dos povos indígenas e em defesa da vida.
Dário Kopenawa rebateu as críticas de pessoas que dizem que os indígenas perderam sua tradição devido ao uso de tecnologias e das redes sociais. A jovem liderança Yanomami afirmou, porém, que é devido ao uso dessas ferramentas que eles conseguem mostrar a cultura, denunciar as agressões e preservar a história dos povos indígenas.
Dário Kopenawa - vice-`residente da Hutukara Associação Yanomami (HAY).
“Hoje nós estamos usando a tecnologia para mostrar às gerações, os acadêmicos e a sociedade que estamos há 522 sendo massacrados. Queremos paz! A mãe natureza está pedindo socorro! Fazemos documentários, filmes e usamos as redes sociais para mostrar a realidade! E não para olhar novelas! Podemos mostrar nossa cultura. Somos anfitriões da terra chamada Brasil”, afirmou.
“Hoje nós estamos usando a tecnologia para mostrar às gerações, os acadêmicos e a sociedade que estamos há 522 sendo massacrados. Queremos paz! A mãe natureza está pedindo socorro!” - Dário Kopenawa.
Dário também lembrou que o povo Yanomami ultrapassa as fronteiras do estado de Roraima, tendo parte de sua população também presente no Amazonas, e mais de 20 mil parentes na Venezuela.
Além dos discursos promovidos pelos convidados, foram realizadas rodadas de perguntas e exibido o vídeo exclusivo que celebra os 30 anos da Terra Yanomami. Na segunda noite, o evento promovido pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM), levou mais de 200 pessoas ao Centro Amazônico sem Fronteiras (CAF/UFRR).
Confira algumas imagens do seminário!
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