Produção experimental pretende revelar os segredos do debate democrático em meio à polarização política.
Por Ana Paula Lopes, Ingryd Silva e Cleber Portugal *.
As universidades sempre foram conhecidas como espaços de debates democráticos e reflexões críticas. Contudo, nos últimos anos, o campus tem se tornado palco da polarização ideológica fervorosa. Na formação acadêmica dos futuros jornalistas, essa divisão é particularmente evidente, impactando diretamente a construção da opinião pública.
O ambiente acadêmico, lugar de incentivo à pluralidade de ideias e promoção de discussões saudáveis, frequentemente transforma-se em um campo de batalha onde ideologias opostas competem para moldar a cosmovisão dos estudantes.
A ideologia na formação dos comunicadores
É inegável que a escolha da metodologia molda o senso político e ideológico dos estudantes. Como diz Castells, o poder da comunicação está na construção de sentidos, na sala de aula, o controle do discurso está nas mãos do professor.
Para o doutor Renan Albuquerque, professor de Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas, não existe neutralidade na comunicação e, nesse sentido, a influência ideológica está presente em todos os processos dentro do ambiente acadêmico. Segundo ele, uma metodologia efetiva envolve “uma proposta de percepção para a vida e uma percepção histórica”.
Ainda de acordo com Albuquerque, “o professor apresenta uma constituição sistemática de diversos processos de pensamentos, conjunturas, filosofias e de comunicação”. Em síntese, a formação acadêmica é “uma construção de pensamento que apresenta às pessoas diferentes pontos de vista, e essa construção de pensamento é mostrada a partir de diversas realidades”. Seja pelos métodos adotados pelos docentes, pelos conteúdos abordados, pelos materiais selecionados ou até mesmo pela construção da grade curricular, todos os recursos dentro do campus envolvem ideologias, diz ele.
Partindo de outra perspectiva, o professor doutor Luís Munaro, defende a ideia da evidente parcialidade ideológica no ambiente intelectual. Segundo ele, os espaços acadêmicos foram massivamente instrumentalizados para a construção intelectual mais progressista, sofrendo forte influência ideológica ao longo de todo século XX, “com os intelectuais crescentemente galgando postos dentro das hierarquias acadêmicas”.
A batalha das narrativas
No ambiente universitário, é comum ver a disputa ideológica se manifestar em discussões acaloradas e campanhas estudantis. A dicotomia entre direita e esquerda é tão presente que, em muitos casos, sufoca a diversidade de visões e compromete o debate.
A jornalista Thays Cunha, quando acadêmica do curso de Comunicação Social, vivenciou logo nos primeiros semestres a intolerância que permeia o espaço da sala de aula. Contudo, a experiência de ser silenciada por divergências de opiniões transformou-se em motivação para novas descobertas dentro da pesquisa.
Movida pela adversidade, a então estudante, iniciou uma investigação sobre a influência ideológica no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima, desafiando as convenções e buscando respostas.
Professores, alunos e até os materiais didáticos podem reforçar certas convicções, alimentando uma divisão que afeta a formação acadêmica e a futura prática jornalística. Essa batalha de narrativas fortalece barreiras ao pensamento crítico e à neutralidade, valores cruciais para a cobertura midiática.
O impacto na prática profissional
Para Thays Cunha, os comunicadores são mediadores da realidade, e seu principal papel é apresentar os fatos de forma neutra, permitindo que o público forme sua própria opinião. Entretanto, quando a formação do comunicador é enviesada, o exercício da neutralidade na produção midiática se torna ainda mais desafiadora. Confira os detalhes no áudio a seguir:
O caminho para um debate saudável
Diante desse cenário, podemos concluir que para a manutenção de espaços de formação críticos e plurais, o incentivo aos debates e a diversidade de opiniões são primordiais. Os futuros comunicadores devem ser constantemente desafiados a questionar suas próprias convicções, a explorar diferentes perspectivas das complexas questões sociais.
* Grupo 1. Conteúdo experimental produzido no escopo da disciplina
JOR53 – Jornalismo Especializado I.
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